Correio Popular - Caderno C - Capa - Guardião da Portela - Monarco
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Impecavelmente trajado de azul e branco, o guardião das cores da Portela caminha pelas ruas cariocas com a imponência de um rei, como a fazer jus ao apelido. Monarco é um tipo popular, de sangue caboclo, cara e nome de brasileiro: Hildemar Diniz, 66 anos, história viva de uma das mais queridas escolas de samba do Rio de Janeiro: a Portela, que será cantada em verso e prosa, hoje e amanhã, no palco do Tonico’s Boteco, às 21h30.
Paulinho da Viola — responsável pela criação da Velha Guarda da Portela, na década de 70—, declarou certa vez que mestre Monarco é o maior compositor vivo da escola fundada por Paulo Benjamim de Oliveira, em 1923: “Ele é uma das últimas testemunhas oculares de um tempo em que ainda se fazia samba de partido-alto com prato e faca, frigideira e tamborim de gato. Conviveu com gente como Candeia, Manacéa, Alcides Malandro Histórico e Chico Santana; e sabe contar histórias que não estão registradas em livro ou documento algum. Ë um arquivo importantíssimo da história da Portela e do samba brasileiro”.
Muito jovem, aos quinze anos de idade, foi convidado pelo lendário Natal — presidente linha-dura da Portela — a ingressar na ala de compositores da escola. Não por acaso, Monarco é tido conto o líder da Velha Guarda da Portela, ainda que, modesto, rejeite o cetro. É, indiscutivelmente, o maior cantor vivo do Brasil e uma das vozes mais personalistas da música brasileira em todos os tempos.
Seus sambas ficaram conhecidos em registros de Clara Nunes (Jardim da Solidâo), Roberto Ribeiro (O Quitondeiro). Zeca Pagodinho (Vai Vadiar), Martinho da Vila (Tudo menos Amor), Beth Carvalho (Mestre Coração), João Nogueira (Serei teu lô lô) e Paulinho da Viola (Passado de Glória), entre outros.
Em cinco décadas de carreira, gravou apenas quatro discos, todos lançados também no exterior. O mais recente deles, A Voz do Samba, rendeu-lhe o Prêmio Sharp de melhor cantor do gênero, em 1995. Participou também do belíssimo Tudo Azul, cantando sambas de terreiro da Portela, alguns ainda inéditos. O disco, produzido por Marisa Monte em 2000, foi sucesso de critica e de público.
Monarco será acompanhado pelo grupo campineiro Quarteto de Cordas Vocais, formado por: Adriano Dias (violão 7 cordas), Dudu Baradel (cavaquinho), Jorge Matheus (percussão geral) e Allessandro Dias (violão 6), mais os convidados Chiquinho do Pandeiro e Edsinho do Surdo.