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CLIPPING: TONICO´S BOTECO

Correio Popular - Caderno C- Capa - Diplomado no samba - Nei Lopes


Leia abaixo, matéria na íntegra

Hoje e amanhã tem Nei Lopes em Cam-pinas, dentro do projeto Mestres no Boteco, às 21h30. Motivo mais do que justo para passar uma desculpa na patroa e chegar em casa de madrugada. Ou, se você for a patroa, convencer o malandro a sair da frente da televisão e levá-lo ao samba — que, na certa, ele deve gostar dos sambas do Nei e vai pagar o teu chopinho no Tonico’s, sem problema.

Tá bem que muita gente pode não asso-ciar o nome à pessoa — o Nei é um desses fabulosos poetas da música popular que não fizeram concessão para entrar na panelinha da MPB e que, por isso, mereceram apenas um reconhecimento tímido do público; conquistado, porém, com muita dignidade.

Tá bem que o Nei não é de ficar dando as caras na televisão, nem vende a negritude para andar de carrão importado. Mas quem é que não sabe cantar, ao menos um trecho de sambas como Gostoso Veneno (“Este amor, me envenena! mas todo amor, sempre vale a pena”) ou Senhora Liberdade (“Abre as asas sobre mim! ó, senhora liberdade”)?

As noites de hoje e amanhã prometem repetir a atmosfera carioca das anteriores, quando Moacyr Luz, Guilherme de Brito e Walter Alfaiate inauguraram, ainda que temporariamente, filiais de seus bairros aqui em Campinas. Da Tijuca, passando por Botafogo, a vez agora é do bairro de Vila Isabel, que viu nascer gente como Noel Rosa e Martinho da Vila, e que tem em Nei Lopes seu grande assessor de imprensa.

Digamos que, se Campinas fosse o Rio de Janeiro, Vila Isabel seria, mal comparando, a nossa Vila Industrial, com seu jeitão suburbano, ladeada por travessas e ladeiras de paralelepípedos, armazéns e botequins. E este o clima que há nas músicas e nas letras de Nei Lopes.

No Brasil, Nei é dos únicos a mandar muito bem em duas frentes: é, ao mesmo tempo, intelectual e malandro, sem tirar nem pôr. E não força a barra de um lado ou de outro: tem vários livros editados, é formado em Direito e Ciências Sociais, tira um troco dando palestras e, é considerado nas bocadas.

Como malandro, foi amigo e mereceu gravações de gente como Clara Nunes, Jovelina Pérola Negra, Beth Carvalho, Alcione, Arlindo Cruz & Sombrinha, Zeca Pagodinho, Chico Buarque e Guinga, entre tantos outros. Seu parceiro mais constante é Wilson Moreira, um dos nomes imortais do samba.

Como intelectual, dedica-se à pesquisa sistemática da cultura africana. Seu Dicionário Banto do Brasil será relançado em novembro, após receber mais de 200 citações no Dicionário Houaiss. Nos últimos anos, tem se destacado ainda como defensor incansável da cultura nacional e, sobretudo, do samba. Seus artigos costumam suscitar polêmicas com a mesma intensidade que seus discos rendem elogios da crítica.

Para as apresentações campineiras, Nei Lopes será acompanhado pelo grupo local Quarteto de Cordas Vocais, formado por Adriano Dias (violão 7 cordas), Dudu Baradel (cavaquinho), Allessandro Dias (violão), Jorge Matheus (percussão geral), mais os convidados Chiquinho do Pandeiro e Edsinho (surdo). No repertório, a certeza de que não vão faltar clássicos como No Tempo de Dondon, Gostoso Veneno e Samba do lrajá. Leia abaixo entrevista concedida ao Correio Popular, por telefone:

Correio Popular — Recentemente, em um artigo, você afirmou que a preservação da música popular brasileira deveria ser discutida com a mesma ênfase das discussões acerca da preservação da Amazônia. Quem são os responsáveis, na sua opinião, pelo “desmatamento” da brasilidade na música que se tem feito, hoje, no Brasil?

Nei Lopes— É um crime o que os gran-des conglomerados industriais do disco estão fazendo com a música brasileira. A música, assim como a Amazônia, é indispensável para a formação da identidade nacional. Mas há uma pressão dos Estados Unidos para que a música mundial ganhe roupagens do modelo pop, que eles dominam. Isto garantiria mercados para seus produtos em todo o planeta e facilitaria a dominação cultural, principalmente sobre o terceiro mundo.

E de que maneira o samba, que sempre foi um símbolo de resistência da cultura nacional, pode se manter afastado dessa pressão colonialista da músi-ca pop?

O grande caminho é não se deixar coop-tar facilmente e aproveitar os meios de comunicação alternativos, como a internet. Através da internet, novos sambistas espalhados pelo Brasil têm se organizado e desenvolvido projetos para a preservação do gênero. O sambista, hoje em dia, não pode mais ser ingênuo, tem que ser um cara consciente de sua cultura, de sua história e de seu papel social.

E o que o sambista deve fazer para não ver sua cultura diluída pela mídia, como aconteceu com o pagode, nos anos 90?

O sambista não deve ter a ilusão de que vai enriquecer fazendo samba. O primeiro passo para virar refém do “esquemão” das gravadoras é achar que vai vender milhões de cópias e cantar na televisão. Este não deve ser o sonho de ninguém. Um dia desses vi um CD chamado Samba de Raiz — Volume 2, o que mostra que “eles” já estão tentando rotular para criar um novo filão, como fizeram com o pagode. Não existe “samba de raiz”, assim como não existe pagode”. O que existe é o samba. Se um Fusca leva a gente para qualquer lugar, não precisamos cobiçar um carro importado. Não há preço que pague a independência de um artista. O samba não é um produto para comprar em supermer-cado, é a cultura do nosso povo.

Você acha que, passada a “febre” do pagode, o samba aponta para um renascimento?

O samba dá provas de renascimento a cada dez anos. E vai ser assim eternamente, nunca vai morrer. De uns anos para cá tenho feito muitas apresentações pelo Brasil, depois de um período difícil. Noto um interesse, sobretudo de pessoas mais jovens, pelo samba. Isto sinaliza um desejo popular inconsciente de frear o projeto imperialista que quer a desnacionalização das músicas do planeta. No mundo, hoje, só vejo duas músicas imbatíveis: a brasileira e a cubana, as duas pedras no sapato da indústria pop.

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