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Correio Popular - Caderno C - Capa - Semana Carlos Gomes


Leia abaixo, matéria na íntegra

A semana Carlos Gomes, que começa hoje, poderia ser o maior evento cultural de Campinas, como acontece nas grandes cidades européias — ou mesmo em alguns lugares do Brasil — quando se comemora o nascimento de uma figura ilustre, como é o caso do artista campineiro. Mas, sem apoio oficial ou privado, é um evento modesto, fruto do esforço de um grupo que, anualmente, faz a Semana Carlos Gomes sobreviver (ver programação nesta página).

Patrocinado pela Secretaria Municipal de Cultura e pela Delegacia Regional de Cultura— ligada ao Estado — a semana pode morrer nos próximos anos, segundo a delegada de Cultura Vera Pessagno. ‘Não existe vontade política nem apoio de empresários’, constata. Mais que isso, o grupo que se constitui na peça de resistência da semana “é tratado de forma depreciativa’, segundo ela “Somos taxadas de viúvas do Carlos Gomes e motivo de chacota”, declara.

Segundo a impressão da delegada “a cidade não se interessa pela semana, não é prioridade para ela”. Assim, ano após ano, um pequeno grupo se reúne e acaba fazendo uma programação dentro de todas as limitações. “É um sonho de alguns poucos, pois não temos aporte financeiro nem apoio da cidade, que não incorpora o evento como sendo seu”.

Ao mesmo tempo, temendo polemizar, Vera acaba por aceitar a situação. Não quero culpar ninguém, mas se continuar assim, a tendência é acabarmos com a Semana Carlos Gomes nos próximos anos.

A única forma de isso não ocorrer, segundo ela, é a própria cidade tomar consciência da importância do Carlos Gomes, “não como alguém que ficou congelado no passado, mas recolocá-lo no contexto histórico de hoje”.

Para isso, é necessário que se quebre o preconceito em relação ao compositor “As próprias orquestras brasileiras não tocam Carlos Gomes”, lamenta Vera. Certa vez, conta, num encontro com o maestro Diogo Pacheco em Campinas, Vera mencionou o músico campineiro e ouviu dele o seguinte comentário irônico: “Ah, aquele compositor italiano que nasceu em Campinas”. Vera respondeu ao maestro dizendo que Carlos Gomes foi vanguardista na sua época — final do século 19.

SAÍDAS

Vera Pessagno vê uma única saida para que a Semana Carlos Gomes se transforme num grande evento: que os governos municipal e estadual assumam a importância do músico e os empresários se conscientizem que devem investir no evento e podem ganhar dinheiro com isso.

Para ela, a semana deveria se transformar num grande festival — erudito e popular— que priorizasse os novos caminhos da composição. O festival traria músicos famosos, bolsistas, artistas, cantores internacionais e gente interessada em cultura e envolveria não só a música de boa qualidade, mas também teatro, cinema, concursos musicais e qualquer outra manifestação artística. Um evento, segundo ela, que movimentasse a cidade e a Região Metropolitana de Campinas nas e atraísse investimentos nos moldes do Festival de Campos do Jordão. “Isso exige uma somatória de esforços, da imprensa aos artistas, passando por empresários e políticos. Um festival assim é possível e temos a Lei Rouanet que possibilitaria a iniciativa privada entrar no projeto”.

A delegada propõe até a mudança de data—colocar o festival em julho, data de nascimento de Carlos Gomes e que coincide com o aniversário da cidade. “Mas isso precisa ter a força de lei e só a Câmara Municipal pode fazer com que isso ocorra”, diz. Tentando seduzir os vereadores, propositalmente foi colocada dentro da programação uma palestra com José Alexandre dos Santos Ribeiro na Câmara Municipal.

Propõe ainda, um trabalho em conjunto com a ONG que está cuidando da revitalização do centro, que atua justamente no ‘ponto zero’ da cidade onde está a estátua de Carlos Gemes. Convidamos os membros da ONG para a cerimônia de hoje em frente ao monumento do compositor e queremos manter contato com eles’, declara.

Apesar disso, Vera garante que o grupo tentou, mesmo de forma modesta, organizar um evento digno da importância de Carlos Gomes. Além de estender a programação para doze cidades da Região Metropolitana, incluindo o Circuito das Aguas, a delegada garante que alguns participantes “são de nível internacional” como a soprano Leila Guimarães — cujo recital acontecerá dia 21, no Centro de Convivência.

Vera também foi atrás do um grande aliado visando a sobrevivência da Semana Carlos Gomes: a maçonaria. “O músico campineiro era maçom e fomos atrás do apoio deles porque estamos em busca de público, mas também para que eles se envolvam no projeto que é também politico, sem cor partidária, além de cultural.

Secretário de Cultura

A reportagem do Caderno C procurou o secretário municipal de Cultura Valter Pomar para falar sobre o assunto, pois a secretaria é co-organizadora da Semana Carlos Comes.

Após contato com sua assessoria, foi enviado, a seu pedido, as perguntas via correio eletrônico na terça-feira. Até o fechamento desta edição e após novo contato coma assessoria, não houve resposta do secretário.

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