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CLIPPING: TONICO´S BOTECO

Folha de São Paulo - Folha Acontece Campinas - Pág. 5- Darcy defende o samba de terreiro


Leia abaixo matéria na íntegra

Opinião

O resgate do samba

Campinas assistiu no ano passado, a um projeto cultural raro, que trouxe o público para ver de perto as autênticas rodas de samba. Quem presenciou “Mestres do Samba no Boteco”, uma série de 12 shows promovida pelo Tonico’s Boteco de agosto a outubro pôde vivenciar a rica presença de velhos sambistas em um ambiente intimista, alegre, mas com as emoções à flor da pele. Participaram Moacyr Luz, Guilherme de Brito, Walter Alfaiate, Nei Lopes Monarco e Nelson Sargento.

As velhas gerações puderam ouvir, cantar e dançar o que hoje quase não se ouve mais no rádio. E as novas gerações entenderam o que é samba de raiz, porque ele não morre nem tem idade. Agora, uma nova etapa do projeto recomeça, com a “Ala de Compositores no Boteco”. São oito shows com os mais respeitados compositores das escolas de samba do Rio. Começou na semana passada, com Niltinho Tristeza, e prossegue com Darcy da Mangueira, Roberto Serrão e Noca da Portela. Esses quatro senhores são muito mais que excepcionais poetas e criadores, pois não é fácil compor num país que não reconhece ou admira seus compositores.

Nos dois projetos, os artistas estão sendo acompanhados pelo jovem conjunto campineiro, o Quarteto de Cordas Vocais, uma grata revelação. É uma oportunidade rara, e todos os apaixonados por boa música vão se reencontrar no Tonico’s.

O projeto Ala de Compositores no Boteco, mais uma iniciativa do Tonico’s Boteco, em Campinas, para valorizar o samba, conta com figuras ilustres, sambistas responsáveis por uma parte importante da história do samba carioca.

Os shows acontecem às quartas e quintas, às 21h30, e o convidado da próxima semana é Darcy da Mangueira, 70, que soma, se isso é possível, mais tradição ao samba.

“Vou contar a história do samba de terreiro, do samba partido alto e de alguns sambas-enredo meus para mostrar a diferença do samba das décadas de 60, 70, para o atual”, disse o sambista em entrevista à Folha.

Para o sambista, o samba-enredo que ele ouvia e compunha, há 40 anos, tinha poesia, era mais bonito e descrevia bem a história que pretendia contar.

“Hoje, não colocam mais a história inteira, só umas frases que são completadas com lá, lá, lá, ô! Um bom samba tem de ser detalhado e não descartável. Às vezes, a própria pessoa que desfilou na escola esqueçe o samba depois de um tempo”, completa.

Darcy começou a compor e batucar em latas amassadas quando ainda era garoto, com dez anos.

Ele conta que a experiência vem de família, com o pai. “A experiência vem da batalha. Fiz samba para a Mangueira durante 56 anos. Sou prata da casa.”

Influências

Darcy conviveu com mestres como Cartola e Carlos Cachaça e, na década de 50, entrou para a ala de compositores da premiada verde e rosa.

Uma das composições de sua autoria faz homenagem a Cartola. O samba “Poeta de Verde Rosa” está concorrendo a um prêmio de R$ 100 mil no festival “Fábrica do Samba”, que está acontecendo no Maracãnazinho, no Rio.

O sambista também traz uma história de premiações. Dois sambas-enredo de sua autoria deram o bicampeonato à Mangueira — em 1967, com “O Mundo En-cantado de Monteiro Lobato” e, no Carnaval seguinte, com “Samba Festa de um Povo”, quando a escola ganhou o título e também o melhor samba-enredo.

“Mercadores e suas tradições”, de sua autoria, também foi feito para a mangueira, em 1969, e “Modernos Bandeirantes”, que fala sobre a aviação, foi o tema de 1971.

Em 1985, Darcy escreveu o samba “Abram Alas”, sobre a história da compositora Chiquinha Gonzaga, e a escola foi pentacampeã naquele ano.

Segundo Darcy, as escolas de samba tiveram a tradição de encomendar os sambas aos compositores. “Agora é diferente, e quem é escolhido é compositor. Antigamente, nós entregávamos o samba à escola”, conta.

Composições de sua autoria também ficaram conhecidas nas vozes de artistas da MPB, entre eles Clara Nunes, Alcione, Elza Soares, Jair Rodrigues, Beth Carvalho e Martinho da Vila.

Em 1972, Darcy foi para a Europa em uma turnê de quatro meses. “Depois não aguentei mais aquela geleira, estava muito frio. Mas cantávamos o samba de terreiro, o samba mais cadenciado, que é cantado antes dos ensaios das escolas de samba começarem, e fazia muito sucesso”.

Para fazer o acompanhamento do show de Darcy da Mangueira, e dos outros sambistas, no Tonico’s Boteco, foi convocado o Quarteto de Cordas Vocais, de Campinas. O grupo participou, com a mesma responsabilidade, do projeto Mestres do Samba, no ano passado, no mesmo bar.

O show de Darcy da Mangueira traz no repertório as canções “Quero sim”, uma parceria com Lecy Brandão, e “Se É Bom pra Você”.

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