Correio Popular - Caderno C - Capa - Niltinho Tristeza
Leia abaixo matéria na íntegra
E dá-lhe tristeza!
Autor do famoso samba que lhe valeu o apelido, Niltinho Tristeza se apresenta hoje e amanhã no Tonico´s Boteco
É possível que muita gente não saiba quem é Niltinho Tristeza, mas é quase improvável desconhecer os versos “tristeza/ por favor vá embora/ minha alma que chora/ está vendo o meu fim/ fez do meu coração a sua moradia/ já é demais o meu penar/ quero voltar àquela vida de alegria/ quero de novo cantar”. Pois Niltinho ganhou o apelido depois de assinar com Haroldo Lobo a música Tristeza, sucesso na voz de Jair Rodrigues em 1966. E, desde então, uma dessas músicas que se canta para sempre em qualquer rodinha de amigos dispostos a entoar música popular brasileira. Niltinho Tristeza estará hoje e amanhã no Tonico’s Boteco abrindo o projeto Ala de Compositores no Boteco, com shows de compositores consagrados das escolas de samba do Rio. O projeto acontece quinzenalmente nos meses de janeiro e de fevereiro, sempre às quartas e quintas-feiras (ver programação nesta página).
Segundo o proprietário do bar Paulo Henrique de Oliveira, o projeto - desenvolvido em parceria com o produtor musical Leandro Fregonesi do Rio de Janeiro - é a abertura extra-oficial do carnaval de Campinas. Assim como ocorreu com o projeto Mestres do Samba no Boteco, no ano passado, todos os sambistas serão acompanhados do grupo campineiro Quarteto de Cordas Vocais.
Niltinho falou com o caderno C ontem à tarde, poucos minutos antes de embarcar para Campinas. Na mala, o roteiro do show feito especialmente para as duas apresentações do Tonico’s Boteco. “Fiz uma seleção caprichada de sambas”, afirma. Sambas seus e de outros compositores. Dos tradicionais, passando pelos sambas-enredo e até bossa nova. Por exemplo, Pra Você, de um insuspeito Silvio César gravado até por Roberto Carlos.
Entre os sambas-enredo, destaque para Barra de Ouro, Estrela Dalva e Liberdade, Liberdade (“liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”, um de seus sambas-enredo mais conhecidos), além do canto introdutório da escola, que também é de sua autoria (“o meu sonho é ser feliz, vem de lá, sou Imperatriz”) e o samba O Chegar da Primavera, consagrado na voz de Elizeth Cardoso.
O compositor carioca é vencedor de cinco sambas-enredo pela Imperatriz Leopoldinense, do Rio de Janeiro, mas antes de se destacar no mais brasileiro dos ritmos, ele fazia bolero. “Fui convidado pelo Haroldo (Lobo) para fazer o samba em parceria; isso foi em 1965. Eu o conheci no Clube Carioca, mas ele já era famoso, com muitos sucessos de carnaval”.
Mas, tragicamente, Haroldo não viu a primeira gravação da música - feita por Ari Cordovil -, pois morreu duas semanas antes. “A última composição dele foi feita comigo”. O sucesso estrondoso veio em 1966. Quando Jair gravou a música. “Logo em seguida, o próprio cantor a regravou no famoso Dois na Bossa, com Elis Regina”. O disco, antológico, foi outro estouro.
A partir daí, Tristeza foi cantada por um monte de gente — cerca de 200 regravações. Ornela Vanoni, Paul Mauriat, Sergio Mendes e Oscar Petterson estão entre eles. O sucesso permitiu que Niltinho vivesse dos direitos autorais. “Graças a Deus, vivo de maneira simples dos direitos autorais do Brasil e do exterior”, diz o músico de 66 anos - nascido em Botafogo em 1936.
Não é a primeira vez que Niltinho se apresenta em Campinas, mas foi há tanto tempo que ele nem lembra direito da data. “Acho que foi no começo dos anos 70, junto com o Oswaldo Sargentelli, com quem trabalhei por dez anos em São Paulo”.
Quem mais participa
Nos dias 22 e 23 de janeiro, a atração do projeto Ala de Compositores no Boteco será o músico Darcy da Mangueira. Ele começou a compor e a batucar em latas amassadas quando ainda era garoto, por volta dos 10 anos de idade. Aprendeu os macetes do samba com mestres como Cartola e Carlos Cachaça. De suas composições, 80 foram gra-vadas por artistas como Clara Nunes, Elza Soares, Jair Rodrigues e Beth Carvalho. O Mundo Encantado de Monteiro Lobato e Samba, Festa de um Povo são algumas de suas criações, campeãs em 1967 e 1968 na Mangueira.
Nos dias 5 e 6 de fevereiro, será a vez de Rober-to Serrão. É colecionador de cerca de cem músicas gravadas por artistas como Alcione, Martinho da Vila, Jorge Aragão, e os grupos Fundo de Quintal e Originais do Samba. Em 1997, convidado pela prefeitura de Nova York, participou do projeto Velha Guarda do Samba durante o Summer Stage, para um público de 5 mil pessoas no Central Park.
Noca da Portela se apresenta nos dias 19 e 20 de fevereiro. É autor dos sambas-enredo premiados da Portela de 1976, 1985, 1995, 1998 e 1999. Tem 300 músicas compostas, algumas delas gravadas por Neguinho da Beija Flor; Maria Bethânia, Nelson Gonçalves, MPB-4 e Emílio Santiago, entre outros. Entre os sucessos estão Virada e Caciqueando (Beth Carvalho), Opção e Lado a Lado (Almir Guineto) e Celular (Wander Pires). (Do Correio Popular).