Folha de São Paulo - Campinas - Pág. 3 - Estação tem roda de samba de mestres
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Estação tem roda de samba de mestres
A programação de Carnaval em Campinas começa domingo, às 16h, com um show que reunirá cinco grandes compositores de samba em uma única apresentação na Estação Cultura.
Moacyr Luz, Walter Alfaiate, Délcio Carvalho, Luiz Carlos da Vila e Jards Macalé vão estar acompanhados pelo Quarteto de Cordas Vocais (Alessandro Dias, Adriano Dias, Dudu e Jorge Matheus) para um espetáculo que tem como ponto forte a tradição.
“O show vai ser uma grande roda de samba, uma bela roda ao estilo das antigas”, disse o compositor Luiz Carlos da Vila.
“O Show Tem de Continuar” foi feito há cerca de 15 anos, lembra Luiz Carlos da Vila. O samba foi gravado por Lecy Brandão e grupo Fundo de Quintal, entre outros músicos da MPB.
O público ainda vai poder apreciar composições como “Além da Razão”, gravada por Beth Carvalho, “Fogueira de uma Paixão” (Lecy Brandão), “Sem Endereço” (Zeca Pagodinho) e ainda “Kizomba, a Festa da Raça”, gravada por Zeca Pagodinho.
O mais recente disco de Vila é “A Luz do Vencedor”, também nome de canção feita em parceria com Candeia, em 1978. “Coloquei letra em uma melodia que ele fez. A música foi feita depois que ele morreu”.
Os shows com sambistas cariocas ganharam formato de festival em Campinas. Com o projeto Mestres do Samba, o Tonico’s Boteco trouxe, durante três meses, no ano passado, uma série com 12 shows.
Segundo a diretora de cultura da Prefeitura de Campinas, Elizabeth Ribeiro, o evento do próximo domingo é fruto de uma parceria com o bar. A secretaria vai contribuir com os gastos de estrutura e parte do cachê, que deve chegar a R$ 1.500 para cada músico. “Procuramos [com a programação] nos aproximar da raiz do samba”, disse Ribeiro.
O show deve durar cerca de três horas e cada músico vai se apresentar sozinho durante 50 minutos.
Délcio Carvalho é outro nome da agenda que vai mostrar sua experiência no samba. Sua trajetória teve início em 50, quando fez, em parceria com Daniel Pereira Santos Júnior, os sambas “Dinheiro de Pobre” e “Destino da Saudade”. Sua parceira mais constante é com Dona Ivone Lara. São com-posições da dupla “Sonho Meu”, que virou hit na voz de Maria Bethânia e Gal Costa, “Sereia Guiomar”, “Liberdade” e “Acreditar”, as duas últimas sucessos na voz de Roberto Ribeiro. “Candeeiro de Vovó” e “Alvorecer” também são resultado da parceria.
O show deste domingo também conta com a presença de Walter Alfaiate, que acaba de lançar seu segundo CD, “Samba na Medida”. O nome vem do samba de breque homônimo, feito em ho-menagem ao próprio Walter por Nei Lopes.
Além de “Samba na Medida”, o público poderá ouvir “Mastruço e Catuaba” (Aldir Blanc e Cláudio Cartier), o sambaenredo portelense “Contos de Areia” (Dedé da Portela e Norivai Reis), “Isso um Dia Tem de se Acabar” (Mauro Duarte e Noca da Portela) e “Bateram em Minha Porta”, samba que Walter cresceu ouvindo, mas não sabe a autoria.
A reportagem tentou encontrar o compositor Jards Macalé até o fechamento desta edição para checar o repertório que o artista traria a Campinas, mas não conseguiu. Macalé deverá cantar suas parcerias com Moreira da Silva (1902-2000), como “Tuau Õculos e Recolhe o homem” e “Cidade Lagoa” e “Favela”, de Padeirinho e Jorginho, as duas últimas presentes no seu disco “O Q Faço E Música”.
Quarteto está na cola dos mestres
Quarteto de Cordas Vocais, grupo de samba de Campinas, conquistou uma oportunidade nobre ao acompanhar verdadeiros mestres do samba em suas apresentações na cidade.
Depois de tocar durante três meses no projeto Mestres do Samba, no Tonico’s Boteco, o quarteto também acompanha, no domingo, os cinco sambistas. “E uma grande experiência, mas também uma correria. Já ensaiamos com [apenas] quatro dias de antecedência”, disse Adriano Dias, um dos integrantes.
Formado há cerca de dois anos, o quarteto integra outro grupo, o Pro Santo, que traz na formação Adriano Dias (voz e violão de sete
cordas), Dudu Baradel (cavaco e voz), Edson Jorge (surdo e voz), Alessandra Dias (percussão e violão), Ramon Montanhaur (pandeiro e percusssão) e Tahal (percussão).
“O projeto [Mestres do Samba] é importantíssimo e nos deu oportunidade para interpretar esses compositores. Minta gente também ouviu canções já interpretadas pelo quarteto, que foram cantadas pelos próprios compositores.”
Segundo Dias, o grupo ainda não recebeu o repertório para o show de domingo. O show não é feito de improvisos, mas sempre há uma canção surpresa que acaba sendo puxada. “Tem de ter jogo de cintura, com certeza.”