Correio Popular - Carderno C - Pág. 4 - Encontro inédito e inesquecível
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Domingo ensolarado, cerveja gelada e samba de primeira linhagem. Quem foi ao encontro inédito dos grandes sambistas Walter Alfaiate, Moacyr Luz, Jards Macalé, Délcio Carvalho e Luiz Carlos da Vila na Estação Cultura, no último domingo, não esquecerá tão cedo. Os cinco mostraram o quanto o samba contagia, anima e une gerações. Na platéia, crianças, jovens, adultos e idosos se espalharam numa das plataformas da antiga Fepasa, e dançaram, se olharam e se sorriram. Independente de cor classe, costume ou credo, anteontem, todo mundo era povo, e só.
O show que teve a participação de representantes das escolas de samba da cidade, marcou em grande estilo o lançamento do Carnaval 2003 pela Prefeitura Municipal de Campinas, e reforçou aponte entre a cidade e o Rio de Janeiro. Os sambistas foram acompanhados pelos jovens músicos do Quarteto de Cordas Vocais (QCV), da cidade, que não escondiam a felicidade de tocar num encontro histórico.
Cerca de 500 pessoas lotaram a estação, e tiveram a honra de dançar e cantar sambas novos e consagrados. Aliás, era admirável o bom humor dos sambistas. Até Jards Macalé reconhecidamente mal humorado em suas passagens por Campinas, brincou com o público e com os colegas. Ele foi o último a subir ao palco para interpretar com sua voz grave e rouca ao violão, marchinhas carnavalescas como Ala-la-o e Ministério da Economia (Geraldo Pereira), Com Que Roupa? (Noel Rosa) e outras.
O primeiro sambista a se apresentar foi Luiz Carlos da Vila, que animou o público logo no início, interpretando Kizomba (Festa da Raça), um dos mais bonitos sambas-enredo, feito para a escola Unidos de Vila Isabel no Carnaval de 1988. Cantou, também, Doce Refúgio, em homenagem ao antigo bloco Cacique de Ramos; Sem Endereço etc. Ai veio Moacyr Luz, de camisa azul, colar e cabelos compridos, tocando e cantando maravilhosamente ao violão, seus sambas que já entraram pra história, como Jogo Rasteiro (parceria com Nei Lopes), Pra Quê Pedir Perdão (com Aldir Blanc). Anjo da Velha Guarda (com Aldir feito em homenagem a Zeca Pagodinho), e outros. Délcio Carvalho entrou em cena para cantar os grandes sambas compostos em parceria com Ivone Lara (que também vem a Campinas dia 16). como Acreditar, e sambas do seu álbum mais recente, A Lua e O Conhaque.
Com a platéia devidamente esquentada, Luiz Carlos da Vila, Moacyr Luz e Délcio Carvalho então chamaram o sambista mais elegante do Rio de Janeiro, Walter Alfaiate (que esteve em Campinas ano passado, juntamente a Moacyr Luz, no Tonico’s Boteco). Ele entrou impecável, com camisa brilhante, e mandou ver clássicos como Olha Aí e Sacode Carola.
O ápice do show foi quando os cinco cantaram juntos, e acompanhados em coro pelo público, o clássica Voz do Morro, de Zé Keti - eternizado na voz de Elis Regina (Eu sou o samba/a voz do morro sou eu mesmo sim senhor/quero mostrar ao povo que tenho valor/eu sou o rei do terreiro). Assim, no primeiro domingo de fevereiro, os cinco não só mostraram o valor que o samba tem, como levaram a alegria para centenas de pessoas.