O Estado de São Paulo - Pág. B9 - O dia e a hora da inclusão digital
Sábado, 29 de março. Nesse dia, começa a consolidar-se uma nova comemoração no calendário brasileiro. Pela terceira vez, o Brasil e mais cinco países estarão celebrando o Dia da Inclusão Digital. Em 27 cidades do País, centenas de computadores e terminais de internet estarão durante todo o dia em ruas, praças e outros espaços públicos, à disposição de pessoas que nunca tiveram contato anterior com a informática, para serem utilizados em demonstrações e experiências educativas.
Criado em 2001 por iniciativa do Comitê para a Democratização da Informática (CDI), para ser comemorado sempre no último sábado de março, com o objetivo de divulgar e promover a democratização das novas tecnologias, o Dia da Inclusão Digital será comemorado neste ano de Manaus a Porto Alegre, em 17 Estados brasileiros, com a presença de representantes de comitês irmãos, dos CDIs de Angola, Argentina, México, Uruguai e Chile. Nas ruas gente simples de cidades tais como São Luís, Piracicaba, Salvador, Montevidéu, ou Luanda trocará e-mails e poderá compreender melhor o papel das novas tecnologias da informação e da comunicação.
Para Rodrigo Baggio, fundador e idealizador do CDI, “nessa data especial, a população é convidada a conhecer e a utilizar a informática, bem como a discutir a necessidade de se promover a inclusão digital em larga escala, num gesto simbólico de democratização das novas tecnologias”.
Em São Paulo, os computadores estarão nas estações do metrô de Tietê, Barra Funda e Santo Amaro. No Rio de Janeiro, o evento acontece no Arpoador, no Saara, no Mercadão de Madureira e no Calçadão de Nova Iguaçu. Em Brasília, no Congresso Nacional. Em Santos, São José dos Campos e Curitiba, em praças públicas. Milhares de pessoas terão a oportunidade de, pela primeira vez, usar o computador, acessar à internet, checar seu CPF, enviar suas declarações do imposto de renda, ler os jornais do dia, participar de um bate-papo com as demais cidades participantes ou simplesmente navegar na web.
Uma novidade deste ano é a instalação de minicâmeras especiais para a internet (webcams), que permitirão o acompanhamento das atividades do Dia da Inclusão Digital ao vivo. E tudo com a orientação de educadores, colaboradores e voluntários do CDI,
Que é isso? — Numa definição bem simples, inclusão digital é a democratização do acesso ao computador, à internet, ao telefone fixo ou celular e a todos os benefícios decorrentes do uso da tecnologia da informação e das telecomunicações. Na visão do CDI, o conceito engloba informática, educação e protagonismo, possibilitando a construção de uma cidadania criativa e empreendedora, como meio para promover a melhoria da qualidade de vida, garantir maior liberdade social, gerar conhecimento e troca de informações.
Os benefícios do acesso à tecnologia da informação contribuem de forma tão significativa para a elevação da qualidade de vida que, em breve, sociólogos e economistas deverão incluir sistematicamente os indicadores de inclusão digital entre os que medem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), pois eles se equiparam aos que retratam a situação da saúde, da mortalidade infantil, da expectativa de vida ou da escolaridade.
Embora a importância da inclusão digital pareça algo óbvio, ela ainda não é bem compreendida por muita gente. Como disse certa vez o guru da administração, Peter Drucker, numa de suas frases antológicas, “poucos percebem o óbvio”. Daí a necessidade de um movimento nacional como o CDI não apenas para discutir e aprofundar o conceito de inclusão digital, mas, acima de tudo, para acelerar sua implementação.
É bom lembrar também que a grande responsabilidade pela inclusão digital não deve caber apenas ao governo pois, políticos, partidos e governantes adoram apanhar bandeiras tão belas e simpáticas quanto essa em suas campanhas eleitorais para, com freqüência, esquecerem seus compromissos logo depois de eleitos. Nesse aspecto, a experiência mundial demonstra que inclusão digital funciona muito melhor quando a sociedade inteira se mobiliza, com a participação consciente de cidadãos, empresas, escolas, universidades e organizações não-governamentais.
CDI, exemplo — Entre as entidades que mais se destacam no Pais na área de inclusão digital está o Comitê para a Democratização da Informática (www.cdi.org.br), organização não-governamental fundada no Rio de Janeiro, em 1993, por Rodrigo Baggio, então empresário e professor de informática em escolas particulares. Entre outros resultados concretos, a entidade já capacitou ao longo de sua existência mais de 350 mil pessoas de baixa renda e distribuiu 3.800 computadores, alocados nas suas 770 escolas de informática e cidadania.