Revista Frutas & Legumes - pág. 16 - Balanço da produção de cebola no Brasil
A produção de cebola no Brasil alcançou a auto-sufuciência, embora sofra competição acirrada com a produção da cultivar argentina, que apresenta melhores benefícios pós-colheita, além de ter caído no gosto do consumidor brasileiro. Para vencer a batalha, a indústria de sementes está investindo na produção de novas variedades de casca escura.
Já os produtores, mais organizados, aumentaram a área de cultivo para atender às necessidades do varejo e passaram a dar maior atenção às normas da classificação, de olho no consumidor final
A cebola é identificada pela origem. Na Europa, as cebolas são espanholas, francesas, italianas, inglesas, americanas, holandesas e japonesas. No Brasil, o Entreposto Terminal de São Paulo identifica a cebola como de São Paulo, de Pernambuco, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, de Minas, do Paraná, da Argentina.
Oriunda do Oriente, Ásia Ocidental, a cebola é muito cultivada na Europa e nas Américas e está presente na alimentação e no tempero das cozinhas do mundo inteiro. No Brasil, é parte integrante da culinária do cotidiano nacional. Os produtores de cebola, brasileiros e argentinos, garantem cebola fresca durante todo o ano para o consumidor brasileiro, com sabor regional. A produção brasileira de cebola aumentou 22% nos últimos dez anos, o que mostra que o produtor brasileiro é muito bom de briga nesse segmento. E mais: foi possível aumentar a oferta do produto em meses tradicionalmente ocupados pela produção argentina.
Um levantamento realizado pelo Ministério de Integração Nacional mostrou que nos supermercados paulistas a cebola responde por 25,2% do volume das hortaliças comercializadas. É possível encontrar quatro cores de casca, dois formatos, três sabores, além de quatro categorias de qualidade e sete classes de tamanho. As instituições de pesquisa e empresas de sementes investem na oferta de diversidade, atendendo às exigências do mercado. As normas de classificação permitem a caracterização da diversidade.
O mercado brasileiro de cebola é formado hoje por dois cenários. O primeiro parte do ponto de vista do produtor, que está cada vez mais preocupado em adquirir sementes que garantam maior produtividade e apresentem maior grau de resistência às doenças do campo. Do outro lado, o consumidor final, atento ao padrão de qualidade do produto, busca novas variedades, o que compreende a disposição de produtos classificados e padronizados e seu maior tempo de vida de prateleira (shelf-life).
Diante desses anseios, o mercado responde às necessidades, tanto dos produtores quanto dos consumidores, lançando novas sementes, aprimorando o manejo de doenças e aumentando a eficiência no pós-colheita. “O Brasil era auto-suficiente na produção de cebola. Há quatro anos, com a abertura do mercado, conheceu a variedade argentina, que logo caiu no gosto do consumidor e supriu o mercado nos períodos de baixa de safra.
A cebola argentina conquistou não pelo preço, mas, sim, pela qualidade do produto final. Além de ser classificada e padronizada, o que agradou ao consumidor, também apresentou um tempo de prateleira maior do que as variedades nacionais e isso foi muito bem aceito pelo varejo”, explica Ayrton Almeida Tullio Jr., engenheiro agrônomo e gerente de Marketing da Seminis Vegetable Seeds.
Ele conta que foi preciso responder rapidamente à concorrência argentina. “Partimos para o desenvolvimento de uma variedade mais resistente às doenças, com casca mais escura e que apresentasse melhor desempenho no pós-colheita”, explica. A Seminis, através da Horticeres, lançou a cebola Montana, com casca em cor vermelho pinhão, mais grossa, com bulbos uniformes de formato arredondado e peso entre 140 e 160 gramas cada um. Do tipo crioula, a Montana é a mais cultivada na região Sul. Santa Catarina, maior produtor nacional, cultiva 16 mil dos 22 mil hectares de cebola crioula.
“O produtor tem, na Montana, uma opção totalmente isenta do Mal de Sete Voltas e da Antracnose. Essa última, doença transmitida por meio da semente, ataca em todas as fases do cultivo, com quebra de produtividade. As sementes da Montana não transmitem a doença porque são produzidas em áreas isentas do fungo”, explica Junior.
Com ciclo longo, de 180 a 210 dias do plantio à colheita, a Montana é mais aclimatada para plantio na região Sul do Brasil. O semeio é feito nos meses de abril e maio, com transplante em junho e julho e colheita em novembro e dezembro.
Atenta a esse nicho de mercado, a Sementes Feltrin lançou a variedade Alfa Tropical, desenvolvida em parceria com a Embrapa. As sementes podem ser plantadas durante o período de clima quente, o que permite que a colheita seja feita na época de outono e inverno, justamente o período em que o mercado depende da cebola importada.
Em função do clima tropical do País, algumas regiões são mais privilegiadas que outras no cultivo da cebola. Na região Nordeste, por exemplo, há predominância das variedades de casca clara, que apresentam resistência pós-colheita entre 30 e 45 dias. Em contrapartida, na região Sul, são produzidas as cebolas de casca escura, mais resistentes ao processo pós-colheita e que conferem um shelf life que pode chegar a até oito meses. “A tendência é que sejam lançadas novas variedades de casca escura, por que o consumidor associa qualidade a esse tipo de cebola”, prevê o gerente de marketing da Seminis.
A eficiência no atendimento aos pedidos do varejo e a reposição quase imediata de produtos forçaram o produtor a aumentar sua área média de plantio para se adequar aos padrões comerciais. Hoje, o varejo dá preferência para a compra de produtos classificados, provenientes de grandes produtores, ou seja, aqueles que colhem entre 50 e 60 toneladas de bulbos/hectare. Isso não quer dizer que os pequenos e médios produtores estarão de fora do mercado. No entanto, a grande tendência é que se unam para a formação de cooperativas como forma de se adequarem a essa nova realidade.
Cebola é, no Brasil, sinônimo de parceria e associativismo. A ANACE (Associação Nacional dos Produtores de Cebola), a ACAPROCE (Associação Catarinense dos Produtores de Cebola), a APROCESC (Associação dos Produtores de Cebola de Santa Catarina), a APROCESF (Associação dos Produtores de Cebola do Médio São Francisco) e a ACERVARP (Associação dos Cebolicultores do Vale do Rio Pardo - SP) aprovaram a norma de classificação da cebola do Programa Brasileiro para a Melhoria dos Padrões Comerciais e de Embalagens de Hortigranjeiros, editado pelo CQH — Centro de Qualidade em Horticultura da CEAGESP.
“A norma de classificação de cebola é o seu instrumento de caracterização, sua linguagem de qualidade. A adoção da norma é passo imprescindível para a utilização de métodos modernos de comercialização, é necessária para a construção de um sistema confiável de informações de mercado”, sustenta Guido Boeing, engenheiro agrônomo e coordenador estadual de planejamento agrícola de Santa Catarina.
Ele entende que a norma de classificação é requerida para o adequado destino do produto, cada qual para o seu nicho de mercado, e é indispensável para a transparência na comercialização, assim como para sua promoção comercial.
A norma tem por objetivo definir as características de identidade, qualidade, acondicionamento, embalagem, rotulagem, base para a codificação e apresentação da cebola nacional destinada ao consumo “in natura”. O programa de classificação e padronização listou dois tipos de defeitos, graves e leves, para identificar as não-conformidades presentes na cultivar.
Como defeitos graves, foram identificados o “Talo Grosso”, quando a união dos catáfilos do colo do bulbo apresentam uma abertura maior que a normal, devido a um alongamento do talo pelo interior do mesmo; o “Brotado”, quando o bulbo apresenta emissão de broto visível acima do colo do bulbo; a “Podridão”, dano patológico que implique em qualquer grau de decomposição, desintegração ou fermentação dos tecidos; a “Mancha Negra”, área enegrecida em virtude do ataque de fungos nos catáfilos externos, e o “Mofado”, que apresenta desenvolvimento visível de fungos nos catáfilos externos.
Como defeitos leves, foram identificados o tipo “Deformado”, que apresenta formato diferente do típico da cultivar, incluindo crescimentos secundários, ou seja, bulbos unidos pelo talo, apresentando externamente catáfilos envolventes; “Falta de Catáfilos” (películas), quando o bulbo apresenta mais de 30% de sua superfície desprovida de catáfilos envolventes; “Falta de Turgescência” (flacidez), ausência da rigidez normal do bulbo; “Descoloração”, desvio parcial ou total na cor característica da cultivar, incluindo o esverdeamento, ou seja, bulbo com os catáfilos externos verdes, e “Dano Mecânico”, lesão de origem mecânica observada nos catáfilos do bulbo.
As cebolas deverão apresentar as características típicas da cultivar quanto à forma, cor da casca e sabor. De acordo com as normas de classificação, não é permitida a mistura de diferentes cultivares dentro da mesma embalagem. A cebola foi classificada de acordo com seu grupo (referente aos formatos do bulbo), sub-grupo (cor da pele), sabor (pungência), classe (diâmetro equatorial do bulbo) e tipos ou graus de seleção (medidas de qualidade).
Quanto aos grupos, subdividem-se em dois tipos. O grupo 1 faz referência às cebolas de formato redondo, oblongo ou periforme. Ao grupo 2 pertencem aquelas de formato achatado. As cores são identificadas pelos sub-grupos e podem ser branca, amarela, vermelha pinhão, ou Bahia, e roxa. A relação de sabor ganhou três tipos diferentes para identificação: picante, suave e doce.
Foram definidas sete classes para cada tipo de calibre das cultivares. De acordo com as normas de classificação, é permitido, dentro de uma mesma embalagem, a mistura de até 10% de bulbos de classe imediata-mente superior ou inferior aos da embalagem. Para medir a qualidade de cada cultivar, foram criados quatro tipos ou graus de seleção: Extra, Cat I, Cat II e Cat III.
As cebolas deverão ser sãs, secas, inteiras, limpas e apresentar as raízes cortadas rente à base, não admitindo-se presença de rebrote de raíz. O talo deverá estar cortado a um comprimento não superior a 20 mm, exceto quando a cebola apresentar-se na forma de réstia.
A classificação é válida somente para a cebola nacional. O lote de cebolas que não atender aos requisitos previstos nessa norma deverá ser classificado como “fora do padrão”, podendo ser rebeneficiado, desdobrado, reembalado, reetiquetado e reclassificado, para efeito de enquadramento na norma. Na comercialização como tal, deve ser devidamente identificado com a expressão fora do padrão, em lugar de destaque, de fácil visualização e de difícil remoção.
Será “desclassificada” e proibida a comercialização de toda cebola que apresentar uma ou mais das características, como o lote que apresentar somatório dos porcentuais dos defeitos graves superior a 20%, resíduos de substâncias nocivas à saúde acima dos limites de tolerância admitidos pela legislação vigente, mau estado de conservação, sabor e/ou odor estranho ao produto.
Sempre que forem encontradas cebolas com defeitos graves e leves, será considerado o mais grave. Quando só existirem defeitos gerais será realizada a somatória dos defeitos. O comprador terá um prazo de 24 horas para contestar a classificação.
Os casos pendentes deverão ser resolvidos por um agente previamente designado pelas partes para esses casos. Os bulbos retirados para a amostra devem ser devolvidos ao lote logo após a pesquisa, com exceção dos utilizados para a determinação de sabor.
As cebolas deverão estar acondicionadas em embalagens novas, limpas e secas, que não transmitam odor ou sabor estranhos ao produto, podendo ser sacos ou caixas, contendo até 20 kg líquidos de bulbos. Será admitida uma tolerância de até 8% à mais e 2% à menos no peso indicado. O número de embalagens que não cumprir com a tolerância admitida para o peso não poderá exceder a 20% do número de unidades amostradas.
As embalagens deverão ser rotuladas ou etiquetadas, em lugar de fácil visualização e de difícil remoção, contendo, no mínimo, as seguintes informações: nome do produto; nome da cultivar; classe ou calibre; tipo; peso líquido; nome e domicílio do importador nome e domicílio do embalador nome e domicilio do exportador; país de origem; zona de produção e data do acondicionamento.
A cebola deverá ser embalada em locais cobertos, secos, limpos, ventilados, com dimensões de acordo com os volumes a serem acondicionados e de fácil higienização, a fim de evitar efeitos prejudiciais à qualidade e conservação da mesma.
O Certificado de Classificação, quando solicitado, será emitido pelo Órgão Oficial de Classificação, devidamente credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento, de acordo com a legislação especifica, devendo constar no mesmo todos os dados da classificação.
A validade do Certificado de Classificação será de quinze dias, contados a partir da data da sua emissão, que deverá ser a mesma da classificação.