Gazeta do Cambuí - Pág. 16 - Sabões ganham o MACC
Pedras azuis espalhadas pelo chão. Pedras que lembram água e formam um pequeno labirinto de questionamentos. Pedras de sabão, que embora limpem, também podem comunicar uma mensagem. E será assim outra vez. Quase duas semanas depois da intervenção urbana Amálgamas ter invadido o Largo das Andorinhas, no centro da cidade, ela ganha registro multimidia (foto, vídeo e folders) e, literalmente, o Museu de Arte Contemporânea de Campinas José Pancetti, o Macc. Quem não pôde passear entre as 10 mil e 300 pedras de sabão instaladas na praça, vai ter uma amostragem da arte cria-da por Sylvia Furegatti em recinto fechado.
Sylvia Furegatti diz que a intervenção foi feita para comemorar o Ano Internacional da Água Doce, dentro de um projeto da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo. E a escolha dos sabões azuis teve duas razões básicas. Primeiro pela cor, que remetia a “limpeza, clareza, uma coisa leve”. Segundo porque enquanto matéria, “formaria a idéia de amálgama, o nome do projeto”.
Coube aos voluntários do Macc (35 colaboradores) ajudar na preparação dos sabões – cada uma das pedras teve a aplicação de uma chancela e de um grampo com uma mensagem relacionada ao tema. A peça, segundo Sylvia. poderia tanto ser levada para casa e usada, quanto guardada enquanto objeto de arte. Seja como for, embutido nesse gesto, estava a intenção de despertar a consciência ecológica dos passantes. O menino Luis Henrique Pontes Bovo, de 9 anos, foi um dos primeiros a ganhar uma pedra de sabão. Com discurso afiado, disse que uma exposição desse tipo “ajuda as pessoas a se conscientizarem sobre a água doce e é bonita também”. Era a prmeira vez que via uma intervenção em praça pública.
Três alunos de Publicidade e Propaganda da ESAMC (Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação) - Luiz Andreghetto, Mariane Leimer e Clara Beluzzo - foram os responsáveis pela criação da logomarca para o projeto (que foi aplicada nos sabões e nas camisetas dos participantes). “A idéia, em primeiro lugar, era criar algo limpo, que não interferisse no sabão”, lembra Luiz. Depois, deveria ser mais abstrata, “para fazer as pessoas pensarem”. O desafio era também fugir de uma coisa habitual na publicidade e propaganda: o nome para se referir a um produto. “Tivemos que nos referir ao projeto, ao conceito, ao invés do produto em si”, ressalta Clara. O resultado do logo: “Três gotas deformadas que juntou tudo isso”, disse. Os três são alunos de Sylvia.
Segundo a artista plástica, a exposição da praça se encaixou numa tendência atual das artes - notada na última Bienal de São Paulo - da obra ser criada para um lugar determinado (site specific). “Se não for ali, não existe”. Por isso a transposição para o Macc será diferente da rua e em menor escala.
A exposição Amálgamas será aberta dia 4 de setembro e fica em cartaz até o dia 18. As fotos (36 delas) e o vídeo foram produzidos por Cybelle Tedesco. Os folders têm textos de Rodrigo Alves (editor do Jornal do Brasil) e Sonia Fardin (diretora da Secretaria Municipal de Cultura de Campinas). Segundo Emerson Dionisio, coordenador do Museu, o público poderá conferir a parte documental da mostra desde o início do trabalho, que começou em fevereiro. Estarão lá todas as frases que foram usadas na intervenção, bem como o desenvolvimento da logomarca e também alguns sabões. Mas nesse último caso, diferentemente da rua, “as pessoas não vão poder levá-los para casa, pois a mostra não será interativa como foi na praça”, explica. Mas para conferir o resultado, é só passar no Macc. A entrada é franca.
Amálgama. (Do latim dos alquimistas amalgama)- 1- Liga de mercúrio; 2- Amálgama de mercúrio e, geralmente, pó de prata, usado pelos dentistas para obturar os dentes; 3- Mineral monométrico, constituído por mercúrio e prata em misturas isomorfas; 4-Mistura de elementos que, embora diversos, contribuem para formar um todo; 5- Reunião de pessoas de diferentes classes e qualidades.