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Plásticos em Revista - pág. 03 - Editorial: Pegando no Pé


Apesar da produção e consumo consolidados há décadas, a imagem institucional do plástico é controversa na cadeia calçadista, revela a matéria de capa. Fabricantes e estilistas, por exemplo, põem nas nuvens o material, adjetivando-o de vanguardista, ícone de moda, lúdico, alto astral, jovem, em suma, como definiu o diretor ouvido da Grendene, a cara do Brasil. O conceito, no entanto, colide com a percepção, assinalada por fontes de resinas e laminados, a respeito de lojistas que, além de desinformados sobre a constituição do calçado, em regra relutam em confirmar a presença do plástico no artigo, temerosos de espantar o freguês. No escuro, é melhor, eles acham, garantir que o sapato é 100% natural. É uma mentira calcada em pura intuição, dada a inexistência de levantamentos específicos que endossem essa restrição do cliente final. Mas pode ser uma seqüela da polêmica imagem pública do plástico no Brasil, aferida em várias pesquisas oficiais do setor e que, apesar das conclusões, até hoje não despertou ações para corrigir o conceito do material.

Uma fatia razoável dos estilistas de calçados, evidencia a matéria, se mostra afinada com a conhecida fração de designers de embalagens que trabalha com materiais sintéticos sem maiores noções do comportamento do projeto na escala industrial. Por causa disso, costuma vingar nessa parcela de criadores a aversão equivocada sobre determinada matéria-prima, pois ignora, por exemplo, ações práticas como a escolha pelo calçadista da formulação mais barata e, em contrapartida, de desempenho a desejar. É outro flanco vulnerável da imagem do plástico que sua indústria precisa reparar pela via da informação, para que compostos ou processamentos indevidos não distorçam injustamente o conceito como um todo de um material.

Devido a seu cordão umbilical com a moda, o setor calçadista é ultra-sensível ao marketing ecológico. Um dos estilistas entrevistados justifica a permanência do plástico nas coleções por ser, inclusive, material ecológico. A tendência pulsa forte a ponto de, ilustra a reportagem, justificar sacadas como a da Coim Brasil, que desenvolve formulações com biomassa e recupera refugo de solados de PU no Sul. De outro ângulo, o marketing ecológico também revela contradições fascinantes entre o professo amor à natureza e o esforço em prol do controle ambiental. Por exemplo, na moda 2004 é in a mistura de materiais no mesmo calçado — um cabedal plástico com aplique de couro e salto plataforma de madeira, por exemplo. Na vida real, isso implica encarecimento da reciclagem mecânica pela exigência de mais uma etapa no processo ecológico: a da separação de materiais. Uma possível explicação talvez venha de uma ótica machista. Como o jogo da moda e dos calçados está nos pés femininos, essa lógica (ou falta de) faz todo sentido.

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