Correio Popular - Caderno C - Capa - Rodrigueana
Diferença de idade, compromissos anteriores opinião dos outros, tudo isso é conversa para boi dornir. Se você quer um amor, tem que aprender a lutar por ele”, diz a avó, que acaba de descobrir que tem um câncer e esconde isso de toda a família —,para a neta de 28 anos, apaixonada por um rapaz de 19, no conto O Jaguar Azul. Sônia Rodrigues, 48 anos, é filha do escritor, dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues (1912-1980), e está lançando o livro Do que os Homens têm Medo (Editora Objetiva, 148 págs., R$ 22,90).
Nascida em Irajá, Rio de Janeiro, autora de 23 livros, jornalista e mãe de três filhos, Sônia começou a escrever aos 9 anos e publicou somente aos 34. Na semana passada, esteve em Campinas para noite de autógrafos no Tonico’s Boteco, onde falou à reportagem sobre a carreira e a nova obra.
“Só me interessa falar do amor”, disparou. E é sobre isso que trata Do que os Homens têm Medo. São sete longos contos sobre relacionamentos entre homens e mulheres, pais e filhos, amigos, todo tipo de relação que envolve perdas e reconstruções.
Longe de qualquer moralismo, os contos de Sônia mostram como mentiras e segredos não resistem ao tempo, mas são necessárias em certas circunstâncias —quando uma mulher é amante de um homem casado, por exemplo. Esta condição, aliás, é freqüente nos contos de Sônia, ela mesma filha de uma mulher solteira (que a teve aos 23 anos) e de um homem casado, de 43, autor da célebre frase “O casamento é a solidão a dois”.
Sônia lembra, durante a entrevista, que seus pais mantiveram uma relação de dez anos, conturbada, apaixonada e culturalmente muito rica.
Leia alguns trechos da entrevista:
Correio Popular – O quanto de autobiográfico têm os seus contos?
Sônia Rodrigues – Somente uma pessoa muito sábia consegue viver um grande amor com um homem comprometido. Então, os meus contos trazem histórias que possuem uma presença feminina muito forte, como foi minha mãe. Meu pai escrevia muito bem como mulher, mas não era muito sábio para se relacionar com uma. Ele tinha uma frase maravilhosa que era assim: “No amor, você não faz o que quer, você faz o que pode”. Eu e minha família temos uma moral sexual rodrigueana. Enquanto as pessoas dão palpites na vida dos outros, nós achamos que o que os outros fazem é problema deles.
O que mais a marcou da convivência com seu pai?
Foi a incompetência dele. O meu pai não conseguia administrar una série de coisas, como por exemplo, os relacionamentos paralelos com o casamento. Então, o que mais me marcou foi o quanto isso me trazia de sofrimento. Meu pai também sofria muito. Ele teve uma vida terrível. O último conto, Do que os Homens têm Medo, que dá nome ao livro, conta a história de um homem que não sabe administrar o amor. Esse conto saiu quase que psicografado, quis escrever como meu pai.
Você fala muito em amor, esse é o tema que mais lhe interessa?
Eu só escrevo sobre o amor. Para mim, não existe outro assunto relevante (a autora edita o site www.amaremuitobom.com.br). O amor sempre rende bons contos, bons livros. E somente as histórias verdadeiras me interessam. Eu gosto de histórias fantásticas, mas prefiro contar histórias sobre seres humanos e suas dificuldades. Mas como leitora, eu gosto de ler de tudo. Influência eu não tenho, mas gosto muito da obra de meu pai, de clássicos como Eça de Queiroz, Charles Dickens, Dostoievisky, Agatha Christie. Além da literatura, o cinema também me inspira muito. Eu gosto de tudo, desde Legalmente Loira a As Invasões Bárbaras.