Após décadas de agressões ao meio ambiente, os municípios industriais podem reverter esse quadro, se investirem na prevenção de acidentes ecológicos, o que sai mais em conta do que correr, depois, atrás do prejuízo. Leis adequadas e fiscalização eficiente são igualmente importantes, mas toda a luta se dispersa, se não houver entrosamento dos vários programas de proteção ambiental existentes. Essa união de forças é a proposta do Instituto Ambiental Biosfera para o 1o Simpósio e Exposição Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em Municípios Industriais, de 20 a 23 de maio, no Parque Brasil 500, de Paulínia/SP.
O geólogo Dorival Bruni – presidente do Instituto que coordena o evento – acredita que ele será uma das maiores oportunidades que o país já teve para discutir seus problemas ambientais. “Vamos reunir representantes do governo e da indústria de mais de 300 municípios, além de convidados do exterior, em torno da urgência do desenvolvimento sustentável, que significa, em linhas gerais, atividade industrial sem danos ao meio ambiente.” Para Bruni, prova de que o desenvolvimento sustentável nos preocupa cada vez mais é a previsão de investimentos de até US$ 20 bilhões, nos próximos 10 anos, na modernização tecnológica, produtos e serviços para minimizar resíduos industriais. “Esse é um dado importante, embora outros países com mais recursos e maior consciência ecológica estejam bem à frente. Um exemplo é o Japão, que investe anualmente cerca de US$ 5 bilhões. Outro, os Estados Unidos, que destinam US$ 10 bilhões/ano à prevenção de desastres ambientais. No Brasil, se investimos US$ 500 milhões, é muito.”
Bruni afirma que a consciência ecológica, embora incipiente, ganha crescente vigor nas indústrias das Regiões Sul e Sudeste. “Nesses locais, não conta apenas a pressão jurídica, mas também a necessidade de ganhar mercados. A proteção ambiental é um dos atuais critérios para a concessão do ISO14000 – a tão almejada qualificação internacional que não dá apenas prestígio, mas facilita o ingresso e a participação da indústria noutros países. Assim, hoje mais que nunca, é importante ser “ecologicamente correto”. Do contrário, a indústria amarga um isolamento que pode até inviabilizá-la.” Outro sintoma de melhora, segundo ele, é que as populações se mobilizam cada vez mais em defesa da natureza, as ongs ecológicas proliferam e têm credibilidade popular, além de prestarem ajuda efetiva nessa área, e a quase totalidade dos municípios conta, hoje, com uma curadoria ambiental.
O Brasil tem hoje 10 mil médias e grandes empresas – a maioria sem avaliar, devidamente, sua interferência no meio ambiente. "O empresário dedica-se à produção como se isso fosse tudo, mas esquece que os resíduos afetam a saúde da população. Assim, quando ocorre algum acidente ecológico – e desde que as autoridades pressionem –, esse empresário sente no bolso o preço da própria negligência. Ou seja, ele prefere remediar a situação a investir na prevenção!” Bruni afirma que, da mesma forma que pode haver harmonia entre progresso e natureza, também a oferta de empregos não exclui a saúde dos cidadãos. Ou seja, a indústria é importante por dar trabalho e produzir riquezas, mas seria ainda mais importante se assumisse compromisso com a qualidade de vida.
O Simpósio Ambiental organizado pela Biosfera será finalizado com a edição da Carta de Paulínia, com as conclusões e recomendações que serão divulgadas, amplamente, no Brasil e no exterior. Os organizadores acreditam que este documento será um importante referencial para os municípios industrializados implantarem programas preventivos.
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