CAMPINAS/P
Dia do Protetor das Florestas: por que a vida está em risco e o que podemos fazer?
Data celebrada em 17 de julho faz referência ao Curupira, mas as ações que podemos tomar para preservar as matas e animais estão mais próximas que essa figura do folclore
No Brasil, o dia 17 de julho é conhecido por ser o Dia do Protetor das Florestas. A data faz referência ao Curupira, figura do folclore conhecida por ter cabelo de "fogo", os pés virados para trás e por proteger as matas e os animais das agressões dos seres humanos.
Enquanto o Curupira é uma lenda, os povos indígenas são reconhecidos por serem os melhores guardiões de suas florestas, como indica relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura e do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe.
Florestas em risco
Os índices de desmatamento não param de bater recordes no Brasil, afetando diretamente importantes rios e, consequentemente, a geração de energia hidrelétrica do país. O resultado disso pode ser visto na conta de luz, que ficou mais cara por conta do risco de apagão elétrico ocasionado pelo baixo volume de água.
"80% do desmatamento no Brasil é causado pela pecuária para a abertura de pastos, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). Ou seja, a pecuária é, de longe, a principal causa da destruição das nossas florestas, por isso, não faz sentido querer proteger nossas matas e financiar a indústria que mais desmata no país", explica Isabel Siano da Million Dollar Vegan, organização sem fins lucrativos que estimula a adoção de um estilo de vida baseado em vegetais.
A redução de consumo de alimentos de origem animal é uma das ferramentas (e atitude pessoal) mais eficaz para frear o avanço das perdas dos nossos biomas e biodiversidade. Além disso, segundo a nutricionista Alessandra Luglio (CRN 3 6893), diretora de campanhas da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira), é também uma forma de cuidar melhor da nossa saúde, prevenindo as principais doenças crônicas não-transmissíveis que adoecem a humanidade. "Afinal, existem pessoas saudáveis em um planeta doente?", questiona a nutricionista.
As queimadas também continuam crescendo, e até mesmo os direitos dos povos indígenas estão em risco por conta de propostas como o Projeto de Lei nº 490/2007, que prevê mudanças no reconhecimento da demarcação das terras. Além disso, os povos originários, as matas e os animais têm sofrido com a atividade ilegal de garimpeiros e madeireiros.
"A pecuária não apenas explora e mata animais para a produção de alimentos, como também contribui para as mudanças climáticas e coloca em risco florestas, povos indígenas e animais selvagens. Além disso, trabalhadores são mantidos em condições análogas a escravidão. Temos que agir politicamente contra esse sistema, e também mudar nossos hábitos alimentares para não subsidiar essa indústria destrutiva", comenta Carolina Galvani, presidente da ONG Sinergia Animal, que atua na América Latina e Sudeste Asiático.
Floresta e toda forma de vida
Vania Plaza Nunes, médica veterinária e diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, alerta que plantar mais árvores é preciso, mas com critério, porque existe uma intrincada relação entre centenas e milhares de formas de vida em cada fragmento florestal.
"É preciso equilíbrio das espécies plantadas com as espécies animais que existem no local. A relação íntima que existe entre a floresta, a mata e toda forma de vida que existe ali dentro é o que suporta e sustenta toda a vida humana. Se tivéssemos de fato essa dimensão, com certeza todos nós estaríamos tendo mais responsabilidade e respeito para preservar o verde, que é o que a gente vê, e toda a forma de vida que a gente não vê."
O que podemos fazer?
Sabendo que sem floresta não há vida, cada indivíduo pode assumir alguns compromissos para que, no dia a dia, possa estimular e ajudar na preservação das matas e animais:
Apoiar ações de proteção das florestas e seus guardiões.
Repensar os cardápios para aumentar o consumo de vegetais.
Repensar o consumo de forma geral.
Incentivar os Rs da sustentabilidade: repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar.
17 de Julho – Dia de Proteção às Florestas
Áreas naturais protegidas oferecem serviços essenciais à humanidade
Especialistas ressaltam a importância das florestas para a manutenção da vida no planeta. No Brasil, situação das florestas é preocupante em todos os biomas
Sábado, dia 17 de julho, comemora-se no Brasil o Dia de Proteção às Florestas, data criada para alertar sobre o risco de desaparecimento das florestas nos diferentes biomas do país, que têm no desmatamento a sua maior ameaça. De acordo com dados do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, elaborado pelo projeto MapBiomas, 13,8 mil quilômetros quadrados foram desmatados no país em 2020, 99% de forma ilegal, um crescimento de 14% em comparação a 2019. O relatório mostra que o desmatamento cresceu em todos os biomas, sendo a Amazônia (60%) e o Cerrado (31%) as regiões com maior porcentual de áreas desmatadas. Caatinga (4,4%), Mata Atlântica (1,1%), Pantanal (1,1%) e Pampa (0,1%) também sofreram com o desmatamento no último ano.
Para Cecília Herzog, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), professora e pesquisadora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), a importância das florestas pode ser considerada por diferentes ângulos, desde o nível macro, por sua relação direta com as mudanças climáticas, até no aspecto regional ou local, observado na saúde e qualidade de vida da população nos centros urbanos.
“As florestas nos fornecem serviços ecossistêmicos de valor inestimável. Desde a regulação do clima e das chuvas necessárias para garantir as atividades econômicas diversas, como a agricultura, passando pelo fornecimento de água e energia para a população, até a sensação de bem-estar que a natureza proporciona, mesmo por meio de ilhas verdes nas selvas de pedras”, ressalta a pesquisadora.
A professora observa que o Dia de Proteção às Florestas deve ser encarado como um alerta para a sociedade brasileira. “Vivemos um momento de enorme gravidade, com ameaças à natureza em todos os nossos biomas e a possibilidade de perda irreversível não apenas para o Brasil, mas para toda a humanidade. Precisamos entender que o desmatamento nos diz respeito mesmo que estejamos a milhares de quilômetros da Amazônia, pois já sentimos o desequilíbrio do clima por causa da destruição das florestas e, infelizmente, isso tende a piorar se não revertermos esse ciclo de degradação”, salienta Cecília.
A especialista faz questão de destacar também os serviços ecossistêmicos fornecidos pela natureza em áreas urbanas, chamando a atenção para a necessidade de conservar espaços verdes e reflorestar áreas dentro das cidades e do seu entorno. “Florestas em regiões urbanizadas, parques e corredores verdes preservam a vida de muitas espécies, inclusive a humana, reduzem ilhas de calor, garantem captação de água, contribuem para uma redução do impacto de enchentes, melhoram a qualidade do ar, reduzem ruídos e ainda proporcionam serviços ecossistêmicos culturais, favorecendo atividades ligadas ao lazer, ao bem-estar e à qualidade de vida, como ciclismo, caminhadas, entre outras”, explica.
Condição para uma vida saudável
Leide Takahashi, também membro da RECN, acrescenta que a proteção às florestas é uma condição para uma vida saudável no planeta, pois, em ambientes naturais conservados, a vegetação, mamíferos, répteis, aves e insetos se autorregulam. “O desmatamento e as alterações drásticas no uso do solo, somados à expansão desordenada das áreas urbanas, rompem o equilíbrio natural e fazem com que parte dos animais migrem para as cidades. No caso dos mosquitos e outros insetos, que são vetores de muitas doenças, a crise climática e o aumento da temperatura também trouxeram condições favoráveis à reprodução desses indivíduos. Nas cidades, eles passam a se alimentar também do sangue das pessoas, favorecendo a transmissão de enfermidades”, explica, lembrando ainda que a atual pandemia do coronavírus é um exemplo de como esse desequilíbrio traz graves consequências à vida humana.
A Fundação, que atua há mais de 30 anos em diversas frentes em prol da conservação da natureza, é responsável por manter duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN): a Reserva Natural Salto Morato, localizada em Guaraqueçaba (PR), na Grande Reserva Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, em Cavalcante (GO), no coração do Cerrado. Ao todo, a instituição conserva aproximadamente 110 quilômetros quadrados de áreas naturais, que representam espaço equivalente a 70 Parques do Ibirapuera, e contribuem para a preservação integral de ecossistemas, proporcionando a diversas espécies a oportunidade de continuar vivendo em seu habitat natural.
Sobre a Rede de Especialistas
A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) reúne cerca de 80 profissionais de todas as regiões do Brasil e alguns do exterior que trazem ao trabalho que desenvolvem a importância da conservação da natureza e da proteção da biodiversidade. São juristas, urbanistas, biólogos, engenheiros, ambientalistas, cientistas, professores universitários – de referência nacional e internacional – que se voluntariaram para serem porta-vozes da natureza, dando entrevistas, trazendo novas perspectivas, gerando conteúdo e enriquecendo informações de reportagens das mais diversas editorias. Criada em 2014, a Rede é uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Os pronunciamentos e artigos dos membros da Rede refletem exclusivamente a opinião dos respectivos autores.
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