CAMPINAS/SP
Em junho de 1981, o jornal Correio Popular mostrava, com chamada de capa, a situação da implantação do sistema naquela época:
"A luta contra a implantação da Barragem do Jaguari no Sistema Cantareira vai continuar. O comunicado oficial divulgado pela Sabesp, na quinta feira, segundo assessores diretos do prefeito de Piracicaba, João Hermann Neto, não convenceu as autoridades locais. Amanhã o chefe do executivo deve convocar a imprensa para reafirmar sua posição em dar entrada na Justiça com uma ação popular contra a barragem do Rio Jaguari. Durante dois dias o Departamento Jurídico da Prefeitura estudou os dez volumes do projeto Cantareira, antigo Projeto Juqueri e a decisão parece já ter sido tomada. O adiamento do fechamento da barragem, colocado pela Sabeps no comunicado foi considerado apenas com o vitória parcial. Os repórteres Gilberto Gonçalves (texto) e José de Oliveria (fotos) sobrevoaram as obras de represamento do Jaguari e todo percurso do rio na quinta feira e mostram hoje a segunda parte da matéria publicada ontem. Página 16.
Hoje pesquisadores analisam o efeito das mudanças climáticas na produção de água no Sistema Cantareira
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Reduzir o impacto da crise climática no território conhecido como Contínuo Cantareira está entre os principais objetivos de um estudo liderado por pesquisadores do IPÊ com apoio da Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e da Fundação Florestal do Governo do Estado de São Paulo.
A pesquisa busca avaliar como a produção de água na região do Sistema Cantareira tem sido afetada pelas mudanças climáticas. Segundo o IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em média, desde a Revolução Industrial, a temperatura no planeta já subiu 1.1ºC, mas nos continentes esse aumento é maior. As consequências desse aquecimento vão desde mudanças do clima ao aumento de eventos extremos.
"Os resultados da pesquisa vão apoiar o planejamento de ações de adaptação às mudanças climáticas globais, com potencial de aumentar a resiliência do fornecimento de serviços ecossistêmicos, sobretudo água, na região do Sistema Cantareira", explica o pesquisador do IPÊ Alexandre Uezu, que lidera a pesquisa.
Para isso são necessárias ações locais capazes de tornar a região resiliente, mas também o comprometimento nacional. "A umidade que vem da Amazônia é essencial para abastecer o Centro-Oeste, o Sul e o Sudeste. Boa parte da chuva que chega ao Sistema Cantareira, por exemplo, vem da Floresta Amazônica, cessar o desmatamento é estratégico também para a segurança hídrica do Sudeste, a região mais populosa do país", alerta Uezu.
Cerca de 7,6 milhões de pessoas recebem água do Sistema Cantareira
O estudo utiliza novas tecnologias de amostragens, como estações de monitoramento online, para coletar informações e simular cenários futuros. Com base no MapBiomas, já foi identificado que o uso do solo foi extremamente alterado ao longo de 34 anos. De 1985 a 2019, a agricultura e pecuária tornaram-se dominantes e cresceram os plantios de eucalipto (em seis vezes) e as áreas urbanas (64% da área foi urbanizada suprimindo as florestas).
"Todas essas mudanças no uso do solo são preocupantes, tendo em vista a produção de água de um dos maiores sistemas de abastecimento do mundo. Nas esferas local e regional, precisamos de paisagens mais resilientes que garantam segurança hídrica, produtividade no meio rural e o funcionamento adequado dos ecossistemas. Com o estudo, vamos obter informações mais precisas sobre o potencial do manejo de pastagem ecológica, do sistema silvipastoril e dos sistemas agroflorestais, por exemplo, contribuírem nessa direção diante da emergência climática", destaca Uezu.
A pesquisa tem como área de estudo as Unidades de Conservação do Contínuo Cantareira: APA Bairro Represa da Usina, APA Sistema Cantareira, Floresta Estadual de Guarulhos, Monumento Natural Estadual da Pedra Grande, Parque Estadual Alberto Löfgren, Parque Estadual Cantareira, Parque Estadual Itaberaba e Parque Estadual Itapetinga. "Queremos identificar como essas UCs influenciam na disponibilidade de serviços ecossistêmicos, como a produção de água, inclusive em um período de emergência climática", afirma Alexandre Uezu.
Também estão contempladas na pesquisa as frentes de sequestro e armazenamento de carbono, dispersão de sementes por aves e mamíferos, além do apoio aos pequenos e médios produtores da região na adaptação às mudanças devido à emergência climática.
O grupo de estudo reúne pesquisadores do Contínuo Cantareira e parceiros do Governing the Atlantic Forest Transition (FAPESP), o projeto de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D da CTG Brasil e IPÊ), projeto Água, Energia e Alimento (CNPq), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR - Centro de Ciências da Natureza/CCN/UFSCAR), Universidade Federal de Lavras (Departamento de Administração e Economia e de Ciência do Solo), RainForest Connection e Universidade Estadual Paulista – UNESP/Rio Claro.
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