CAMPINAS/SP
DO JORNALISTA MARCOS OZORES
DIARIO DE PARIS
06 DE MARÇO DE 2023, SEGUNDA-FEIRAS
Bons dias a todas e todos aqui desse espaço desse mundo Glocal (global +local). Como aos sábados nosso senhor Jesus Cristinho gosta de ver todo mundo bem, já no domingo é diferente e eu descanso. E ontem decidi não sair do apê para ir ao concerto dominical de piano na igreja de Saint-Merri. Nossa amiga Maria Lucia, da UFJF está passando sua temporada anual na cidade e veio jantar aqui no apê em companhia de sobrinha, recém-chegada de Sampa. Daí ficamos para organizar jantar e reunir as três sobrinhas: a nossa por consanguinidade e sua amiga e Adriana, sobrinha de Lucinha. Jantar mezzo a mezzo. Mezzo italiano e mezzo francês. Salada, macarrão (com molho feito aqui pelo chef), vinhossss, queijos excelentes (que Lucinha comprou no Marché d’Aligre, no 11éme, o melhor da cidade) e prosa até as 23H55, faltando 5 minutos para Cinderela partir, não virar abóbora e dar tempo para que Lucinha e Adriana pegassem o ultimo metrô da linha 4. Aliás, Paris, diferentemente do que se imagina é uma cidade que dorme cedo (essa coisa de festa até altas horas é para os Bobôs do 16éme - não é bobo como no Brasil - mas isso é outra história), os horários da vila são regidos pelo horário do transporte público. Dos muitos amigos e amigas que trabalham na universidade por aqui se contam nos dedos de uma mão aqueles proprietários de um automóvel. Se vão viajar alugam, na grande maioria, ou o mais prático, vão de trem.
Hoje, pela primeira vez, visitamos o prédio sede da Radio France Internacional em Issy-les-Molineaux cidade conurbada a Paris, 2 ou 3 km distante da Péripherique que é a rodovia que circunda toda Paris onde, até o final da II Guerra, ainda haviam resquícios da antiga muralha.
Wilma foi convidada a dar entrevista para a RFI e falar sobre seu novo livro que está no prelo, pela Editora da Unicamp, e tem como tema o ‘carnet de voyage’ de Afonso Taunay, sim o filho do Visconde que foi o recriador do Museu Paulista, ou melhor do Museu do Ipiranga. Foi oportunidade para que eu pudesse profissionalmente conhecer esse prédio por dentro.
Conforme o táxi que foi nos buscar (oferta da RFI) saiu da Péripherique, na região sudoeste de Paris, pela D50, a imagem que você se depara é uma ilha de prédios envidraçados e imensos sedes de redes televisivas e mídias digitais. Pelo trajeto você vai deparando com a sede da TF1, FDJ (loteria do país com canais de corridas de cavalos e mais um bocado de coisas. Aqui tem loteria que corre de dez em dez minutos), Sport TV, Apple, Google, Microsoft etc etc etc etc...
A Radio France Internationale sempre foi um braço da Radio France, mas, passou ter vida independente a partir de 1987 tendo orçamento próprio garantido pelo imposto do áudio visual (imposto que todo cidadão paga anualmente para uso da TV e meios de comunicação em geral). A RFI faz transmissões atualmente em 18 línguas e conta mais ou menos com uns 70 estúdios, é o que pude deduzir já que a gravação foi no quinto andar e o estúdio que entramos (eu como ouvinte) era numero 55. O andar que estávamos era redação do Vietnã e, como em todas as redações, que conheci ao longo da minha vida, a bagunça ou ‘gabunça’, como diz meu sobrinho neto, é a mesma. E é a mesma desde que seu pai assistiu ‘Todos os Homens do Presidente’ estrelado por Robert Redford e Dustin Hoffman. Pilhas de papéis e gente falando no telefone. O que não tem mais é aquela fumaça de cigarro, típica dos anos 70, 80, 90 quando ainda trabalhava nas redações e fumava quatro maços de cigarros por dia, não é exagero, é verdade. Ainda bem que parei de fumar há 35 anos, caso contrário, vocês não estariam lendo esse meu diário.
Não preciso dizer que a RFI é como se você estivesse no supermercado ‘Lidl’ - a rede mais barata e popular da cidade – uma Babel linguística.
A redação do Brasil tem dez jornalistas contratados e dois ou três ‘free lancers’. Adriana, jornalista há 16 anos na RFI, formada na federal de BH, foi quem nos recebeu e comanda a redação. Por incrível que pareça a redação dos coleguinhas de Pindorama era a única que não vi um papel em cima da mesa e até fui jocoso com o pessoal.
Faço aqui um breve comentário após conversa com os coleguinhas da RFI. A promessa de campanha para o segundo mandato do novo ‘petit Napoleon’ de acabar com vários impostos – nessa saga neoliberal que assola o mundo – foi aprovado pelo Senado no final de 2022.
Foi extinta a contribuição para a radiodifusão pública (CAP ou taxa de licença de TV) que financiava parte do orçamento da France Télévisions, Radio France, INA, Arte France, TV5 Monde e France Médias Monde (France 24, RFI, Monte Carlo Doualiya). Este imposto era de 138 euros por domicílio fiscal na França continental e 88 euros no exterior, cobrado pela administração de telespectadores e profissionais privados (restaurantes, hoteleiros, operadores de bares, etc.), e transferido para estações públicas de rádio e televisão . A sua receita representa 3,14 bilhões de euros. Será abolido este ano. Será substituído por uma fração dos 92 bilhões de euros que o IVA traz ao Estado. O desaparecimento da taxa coloca a radiodifusão pública numa zona de incerteza, para o futuro próximo.
Lembro quando eu dirigia as gravações do programa ‘Brasil Pensa’ - produção da Unicamp e Uniemp - na TV Cultura, quando Mário Covas, eleito governador, decidiu acabar com apoio a TV Cultura retirando parte do orçamento garantido no orçamento do Estado e dando em contra partida uma falsa autonomia para busca de anúncios. A força da Cultura era o departamento de educação e criatividade responsáveis pela produção do Castelo Ra-Tim-Bum o mais premiado programa da TV brasileira pelo mundo, na sua área. O departamento foi extinto em um ano após a politica neo liberal do engenheiro e a Cultura não produziu nada mais de relevante.
Finda visita, o táxi – oferta da RFI – nos esperava para trazer de volta ao 14éme. No caminho da volta registrei - em fotos para que voces vejam - que Paris, não é só aquela que os turistas encontram na região central. Aquela é a Paris reconstruída pelo Napoleãozinho e seu fiel escudeiro, o Barão de Hausmann. A Paris das fotos de hoje mostram uma cidade com arquitetura moderna e contemporânea mesclando - nos bairros distantes do centro (me ajuda ai Falcoski) - prédios imensos, envidraçados e uma arquitetura - às vezes de gosto duvidoso – que convivem com prédios construídos pelas leis ‘hausmanianas’.
Por fim o táxi passou em frente a Tour Eifel já que todo esse tempo que estou aqui, nas terras de Jean Moulin, não tinha vindo para esses lados, sempre cheios de turistas.
Bem, pedimos para o taxista no deixar “au pied du Lion de Denfert Rocherau” e fomos almoçar na Rue Daguerre. Afinal, já eram 14H30 e o estômago começava a emitir sinais estranhos. Na volta parei num café e fiz uma fezinha na euro milhões, acumulada em quase 150 milhões de euros. Se na quarta não voltar a escrever aqui a voces é porque fui para Pasárgada.
Amanhã tem mais.
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