Campinas/SP - Sábado, 23 de novembro de 2024 Agência de Notícias e Editora Gigo Notícias  
 
 
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"PRIVATIZAR LUCROS E SOCIALIZAR PREJUÍZOS"  


A AGÊNCIA DE NOTICIAS E EDITORA CLICKNOTICIA assumiu, a partir de 2021 as funções que desde 1996 a Comunicativa atuava no mercado de comunicação com características próprias de Agência de Notícias e Editora. Assim, também como agência e editora, a CLICKNOTICIAS se propõe a levantar informações de interesse jornalístico, na macro região de Campinas, espontaneamente ou por demanda para difundí-las através do site www.clicknoticia.com.br. Como Editora ela coloca à disposição de instituições públicas ou privadas o seu corpo de profissionais para produção de publicações jornalísticas em todas mídias disponíveis. Ao conhecer a empresa e suas necessidades no setor de comunicação, podem ser sugeridas ferramentas através da elaboração de um Plano de Comunicação, incluindo jornal para os funcionários, publicações institucionais ou específicas para os clientes, produção de conteúdo para sites, criação de hubs e sites responsivos, entre outras. Esse trabalho é pautado por critérios profissionais e éticos acim a de tudo. A Comunicativa Assessoria e Consultoria Jornalística foi criada como prestadora de serviços jornalísticos em abril de 1996 em função da demanda de profissionais capacitados para interrelacionar o segmento corporativo e os veículos de comunicação jornalística. Fone/WS: (19) 987-835187 - (19) 99156-6014


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CAMPINAS/SP


Uma equação simples: privatizar lucros e socializar o prejuizo

"Um povo sem memória é um povo sem história.
E um povo sem história está fadado a cometer,
no presente e no futuro, os mesmos erros do passado"
Emília Viotti da Costa



O secretário estadual de educação do governo de São Paulo Renato Feder anunciou, na primeira semana de agosto, que o governo paulista, sob o comando do ex-capitão e engenheiro militar Tarcísio de Freitas, resolveu renunciar a 10 milhões de exemplares de livros didáticos, comprados e distribuídos pelo MEC, a todos os alunos do ensino fundamental 2 (6.º ao 9.º ano) a partir do ano que vem, 2024, para usar apenas material digital. O ensino médio do sistema público de educação também deixará de ter livros impressos.

Antes de continuarmos a análise sobre essa decisão do governo paulista em recusar o uso físico dos livros didáticos, vamos fechar o foco para ver mais de perto que são os personagens centrais dessa história: o governador Tarcísio de Freitas e o ‘enfant terrible’ Renato Ferer.
Em outubro do ano passado, os paulistas decidiram escolher para governá-los um carioca - que só conhecia o estado de São Paulo de passagem- e, portanto, ignorante das peculiaridades dos descendentes dos campos de Piratininga. Seu cacife eleitoral, naquele momento, e motivo da sua eleição, era ter sido fiel escudeiro e ministro de Infraestrutura, do também ex-capitão, Jair Bolsonaro por ter estado à frente, durante três anos e três meses, do ministério da Infraestrutura e sido o responsável pelo recapeamento das estradas federais, construído pontes e outras obras de arte, desde que o poder local prestasse juramento de vassalagem aos dois capitães o Bolsonaro e o Tarcísio, nessa ordem.

A narrativa, amplamente explorada em sua campanha eleitoral, martelada e ecoada pelas mídias sociais do candidato direitista era que o ex-ministro da Infraestrutura havia realizado trabalho de destaque no período em que esteve à frente da pasta da Infraestrutura antes de sair para ser candidato a governador na terra do Tatuapé. Um exemplo raro de competência, afirmam os bajuladores de plantão, que para justificar o culto ao mito da competência do capitão Tarcísio, sempre ajuntam uma frase - sublinhada em itálico – que foi durante sua passagem pelo curso de engenharia civil no Instituto Militar de Engenharia (IME), em 2002, onde obteve a maior média histórica do curso na instituição. Mito ou verdade não importa, o fato é que a frase colou, como dizem hoje nas redes sociais.

Os dados estatísticos são frios, não mentem e são eles que mostram, no entanto, que o principal cartão de visitas de Tarcísio – frente a gestão das rodovias – teve resultados péssimos. O ex-militar, que entre seus apoiadores é conhecido pela alcunha de “Tarcisão do Asfalto”, conseguiu a proeza, inversa ao que aponta seu curriculum de gênio. Sob o comando, do melhor aluno do IME, a condição das rodovias brasileiras piorou muito. O site do ‘Intercept Brasil’ publicou, em outubro do no passado, uma extensa reportagem enfocando a gestão de Tarcísio durante o período em que foi ministro de Bolsonaro baseando-se nos relatórios da Confederação Nacional do Transporte, a CNT, com dados anteriores e posteriores à gestão do bolsonarista. A conclusão dos jornalistas do Intercept é que durante os três anos e três meses em que Tarcísio esteve à frente do ministério o investimento do governo federal em transportes teve o pior nível em uma década e as condições gerais de rodovias federais pioraram, em todo o país.


No final de 2021, a CNT avaliou 109.103 quilômetros de rodovias pavimentadas. Ao todo, 61,8% delas foram consideradas regulares, ruins ou péssimas. No final de 2018, pouco antes de Tarcísio tomar posse no ministério, o mesmo relatório havia apontado que 57% das rodovias estavam na mesma situação.
Segundo a CNT, a avaliação geral piorou principalmente por conta das condições das rodovias administradas pelo poder público. Ou seja: justamente naquelas que estavam sob influência direta do governo federal e de governos estaduais. Em 2018, 65,2% das rodovias públicas eram regulares, ruins ou péssimas. Em 2021, esse percentual subiu para 71,8%.

A verdade é que o menino gênio do governo Bolsonaro tem poucas ideias na cabeça e muita pretensão para exibir as maiores notas de matemática na sua passagem pelo IME. Aliás, Einstein foi realmente um gênio, mas é sabido que ele não conseguia lidar com as coisas práticas e corriqueiras do dia a dia.
Vejamos uma outra faceta do pretenso gênio da administração paulista revendo os discursos de posse de Tarcísio tanto como ministro e como governador dos paulistas. Privatizar. Essa é a palavra mágica dos neoliberais que só conseguem enxergam pela sua miopia apenas uma saída para economia mundial. Privatização. Mas privatização sem critérios só tem um objetivo: enriquecer os mais ricos e encarecer os serviços que antes eram prestados por empresas públicas. E o mais importante nesse jogo, é garantir a distribuição, para os acionistas, dos lucros obtidos com venda do patrimônio das empresa, após privatizadas. Vejam o que aconteceu com e Eletrobrás e a Petrobrás durante a gestão da dupla Guedes e seu pupilo Bolsonaro. Durante quatro anos o mago da Fazenda burlou indicadores, subiu o preço dos combustíveis, fechou refinadoras, privatizou o setor de varejo da Petrobrás mas garantiu a distribuição dos mais vergonhosos dividendos aos acionistas que se tem notícia no mundo. Bem, essa é outra história.
Voltando ao nosso tema sobre a dispensa dos livros didáticos pelo governo paulista vamos fechar o foco da nossa câmara para o segundo personagem dessa história mal contada. O ‘enfant terrible’ formado pela FGV Renato Feder.

Renato Feder, nascido em junho de 1978, na capital paulista, é um dos herdeiros do grupo Elgin, um império empresarial que, há mais de 60 anos, atua na área de refrigeração, aquecimento solar, entre outros. Feder, formado em administração pela FGV paulista - com mestrado em economia pela USP - faz parte do grupo de amigos íntimos do ex-governador paulista João Doria. Quando tinha 25 anos, em 2003, Feder renunciou à sua herança na Elgin para aceitar o convite do amigo de infância Alexandre Ostrowiecki para ser seu sócio na empresa Multilaser que à essa época era uma empresa de pequeno porte. O convite de Alexandre a Renato ocorreu pelo fato que o pai do primeiro havia falecido, ainda jovem, vitima de mergulho para pesca submarina, nas águas da Costa Rica. Multilaser à época era um pequeno negócio familiar de reciclagem de cartuchos para impressoras. A dupla de jovens empreendedores fez com que essa pequena empresa se tornasse uma das gigantes do setor de informática que hoje fabrica mais de 6 mil produtos diferentes disponibilizados em 40.000 pontos por todo o país. Dentre esses produtos encontram-se tablets escolares e brinquedos para crianças.

Nesse momento é importante que coloquemos ao nosso leitor uma equação simples para podermos pensar e clarear o nosso raciocínio. Muito embora esses dois jovens ‘hipsters’ empreendedores defendam o capitalismo livre de amarras do setor público o que não contam é que o grande comprador dos seus produtos é o próprio setor público que tanto condenam. Portanto vamos a nossa equação: Renato Feder + Alexandre Ostrowiecki + João Dória (e o pacote do LIDE) + Ratinho Jr + MEC + Tarcísio de Freitas. O resultado é LUCRO e dos grandes.

Vou tentar demonstrar, assim como quando aprendíamos o teorema de Pitágoras no ginásio e, ao final, escrevíamos CQD, isto é, como queríamos demonstrar.
A Multilaser cresceu muito e fechou contratos milionários com o poder público federal. Entre 2011 e 2018, como mostra reportagem da CNN, a Multilaser fechou 28 contratos com órgãos ligados aos Ministérios da Previdência Social, Economia, Educação e Advocacia-Geral da União (AGU). Esse contratos continuaram durante o governo Bolsonaro.

Mas, como todo pequeno gênio, dos tempos de mídias sociais, assim como Narciso acha feio tudo que não é espelho, em 2011, a dupla de empreendedores Feder& Ostrowiecki decidiu enveredar pelos caminhos da educação e movidos pelo espirito empreendedor, isto é, sem nenhum conhecimento pedagógico e muito menos da ciência política decidiram escrever um livro onde apresentam a ideia que eles têm do Estado “perfeito”. Intitulado “Carregando o Elefante: Como livrar-se das amarras que impedem os brasileiros de decolar”, a dupla defende a ideia - mais velha que caminhão de mudança da ‘Lusitana’ - do Estado Mínimo, com pouco ou quase nenhum controle estatal sobre a economia, e onde a justiça social é garantida mais pelo esforço pessoal do que pela atuação do Estado. O livro é uma espécie de junção ruim das reflexões bizarras de Steven Bannon e Silas Malafaia.

Para a dupla de jovens inovadores - que lembram Laurel & Hardy – o Estado é incompetente para tudo. Desde a contratação de professores que eles acham os piores do país até a gestão da escola pública. Selecionei três textos como exemplo das brilhantes teses dos novos gênios da educação brasileira:
1. “Alunos das escolas públicas estudam com professores semianalfabetos, tirando as piores notas de Matemática do mundo“
2. “A melhoria da educação no Brasil passa por uma questão fundamental: é o Estado a entidade certa para operar dezenas de milhares de escolas? Será que o controle público é a melhor forma de gerir um colégio, escolher material didático, pagar professores e cuidar da manutenção? “

A melhor frase deixei para o fim para que voces prestem atenção onde está o segredo desse emaranhado de confusões
3. “O voucher educacional é um sistema bastante simples de entender: o Estado paga, os pais escolhem, as escolas competem, o nível de ensino sobe e todos saem ganhando (...) Após uma fase de cobrança de mensalidades, deve-se partir para a completa privatização do ensino superior e, em seguida, fazer o mesmo com o ensino fundamental, com os cursos técnicos e com a pré-escola. Todos esses ciclos devem ser adaptados ao sistema de vouchers”

Não é preciso ser profundo conhecedor em equações irracionais para entender o pulo do gato nas propostas dos aprendizes de feiticeiro. Ou seja, é o dinheiro público que vai garantir o lucro das escolas privadas, ao mesmo tempo que o Estado lava as mãos sobre a responsabilidade de garantir a educação pública, gratuita e de qualidade, e segundo os autores desse brilhante texto “a mão invisível do mercado”, através da livre concorrência garantirá a qualidade de ensino, porque os pais escolherão a melhores escolas. Cinco minutos de aplausos para a mágica de ganhar dinheiro fácil.

E é claro que uma boa teoria tem que ser testada. E o lugar escolhido para que Renato Feder testasse tudo o que profetizou na sua busca do Estado mínimo o local escolhido só podia ser Curitiba, capital do Paraná e berço da ‘Lava Jato’ ou ‘Vazo Jato?’.

Feder foi secretario de educação no primeiro mandato do Ratinho Junior, sim o filho daquele apresentador de tv que quando jovem grunhia diante das telas das tvs, do norte do Paraná, com um porrete na mão tentando matar uma legião de cruéis bandidos imaginários (que vive tem memória). Feder assumiu a pasta da educação no Paraná em 2019 e sua grande obra foi promover uma das maiores ampliações da rede pública de escolas cívico-militares do País, com a inclusão de 195 escolas que passaram a ter o modelo defendido por Jair Bolsonaro. No entanto, o sonho de privatizar a rede publica de ensino do Paraná não saiu do papel e o governador Ratinho Jr abortou a ideia após enfrentar a resistência dos movimentos dos professores paranaenses com muita pancadaria entre policia e manifestantes em frente ao palácio do governo estadual.

A decisão do governo Tarcísio & Feder em abolir os livros escolares, na sua forma física, e decidir distribuir tablets para todos os alunos das escolas públicas paulistas, além de arcar com a produção do conteúdo de todas as matérias do currículo aparece na mesma semana em que o jornal ‘O Globo’ publicou, no ultimo dia 02 de agosto, matéria assinada por Rennan Setti informando que as sucessivas quedas das ações da Multilaser retiraram seu CEO e controlador, Alexandre Ostrowiecki, do clube dos bilionários.

A matéria prossegue informando que quando a Multilaser estreou na Bolsa, em julho de 2021, a fatia do empresário na Multilaser valia R$ 3,6 bilhões. Hoje, depois de os papéis despencarem quase 37% num só dia por causa de um prejuízo registrado no quatro trimestre, a participação de Ostrowiecki vale pouco mais de R$ 460 milhões.

Desde o IPO, a companhia já perdeu mais de 87% do seu valor na Bolsa, avaliada agora em R$ 1,1 bilhão. Só este ano, a queda acumulada é de 63%.
Lembro aos leitores que em 2021, em parceria com o Google, a Multilaser trouxe ao Brasil tablets voltados para a educação infantil.

Escrever sobre o fim do uso dos livros impressos nas escolas públicas paulista é um debate multidisciplinar, pois, vai desde a questão da aprendizagem através de máquinas até questões das conexões de rede de wifi passando pela dificuldade de acesso para a população mais carente tanto na aquisição de celulares como lap tops. Isso sem colocar a principal questão que é como se dá o processo de transmissão do conhecimento.
O governo do Estado promete distribuir tablets educativos com conteúdo todo digital como se a própria tecnologia fosse capaz de num passe de mágica ‘abrir a cabeça do aluno’. A população paulista deve estar atenta para o uso do dinheiro público e quem será o grande beneficiado dessa equação. Ainda não cheguei ao final, com o nosso CQD. Tenho, no entanto, sempre a mesma suspeita: quando o lucro é fácil ele sempre é privado, mas quando o prejuízo é grande ele deve ser socializado e o Estado brasileiro é sempre quem paga as contas.

Finalizo esse artigo com a frase da historiadora Emília Viotti da Costa: “Um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado", isto é, já assistimos a esse mesmo filme em que as soluções mirabolantes parecem sempre possíveis mas não resistem a cinco minutos no mundo real.


 

 
 
   
   
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