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A DEUSA ATENA ACORDOU IRADA HOJE - MARCOS OZORES
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CAMPINAS
DIARIOS ATENIENSES
MARCOS OZORES
21 de janeiro de 2024
Hoje, a deusa Atena despertou irada com seus fiéis e nos presentou com um tempo cinza e muitas nuvens cobrindo o céu da Ática. E como Atena havia brigado com Teseu, na noite anterior, e para se vingar convocou Éolo para cumprir sua vendeta presenteando a nós, os humanos, com muito vento e temperaturas congelantes durante todo o dia. Viajante escolado sabe que em dia com vento e com Sol brilhante é sinal que vem muito frio e as visitas externas deve ser evitada para o bem da saúde.
Portanto, mudam-se os planos, voltamos à leitura do velho Frommer’s, no quarto do hotel, na busca de dicas em ambientes fechados. A escolha não poderia ser outra: o novo Museu da Acrópole, aberto em 2009, substituindo o antigo museu, de 1867, que ficava no alto no monte ao lado do templo de Atenas.
O imponente prédio em concreto armado e vidro - que poderia ter sido desenhado por Oscar Niemeyer – fica em frente à portaria de entrada do Parthenon e foi projetado pelo arquiteto suíço Bernard Tschumi, o mesmo que realizou o Parque de La Villette de Paris. Esse prédio deveria ter sido inaugurado para os Jogos Olímpicos de 2004, mesmo ano que o governo grego empreendeu uma reforma modernizadora na cidade de Péricles. No entanto, a construção do prédio, de 130 milhões de euros à época, atrasou cinco anos. Nesse ponto os gregos estão muito mais adiantados que o Brasil, lembrando que o metro de Porto Alegre, previsto para a Copa do Mundo, em 2014, ainda continua parado em um trilho só, numa base suspensa ao lado do Guaíba.
Toda a estatuaria exposta no Museu da Acrópole de Atenas, principalmente partes da frisa do Partenon, são frutos da reconstituição científica. Isso porque o Parthenon, ao longo dos últimos dois mil quatrocentos anos, foi sendo pilhado, em partes, pelos invasores de plantão. Primeiro foram os romanos que o transformaram em fortaleza, depois os vândalos no século IV d.C e, lá pelo século V, os cristãos transformaram o Parthenon em templo cristão colocando uma cruz lá no alto, depois vieram os muçulmanos bizantinos que tiraram a cruz lá do alto e colocaram sua lua minguante e minarete no lugar. Daí os venezianos bombardearam o prédio, em 1687, destruindo-o quase que integralmente. Por último vieram os ingleses, na figura do seu diplomata em Atenas, Lorde Elgin que, entre 1801 a 1803, literalmente saqueou metade da estatuaria do Parthenon que havia sobrado de todos esses ataques anteriores e as embarcou para Londres, onde se estão expostas, desde a primeira metade do século XIX, no Museu Britânico. Pior é que os britânicos se recusam, até hoje, a devolver as peças surrupiadas pelo seu diplomata, no início do século 19.
Bem, vamos voltar a nossa visita nesse dia de muito frio. O museu é absolutamente maravilhoso. O prédio foi construído sobre uma antiga região de escavações e o piso é em vidro e você literalmente caminha sobre a ruinas de uma cidade do século VI a.C. O prédio, de três andares é dedicado integralmente à estatuária vinda do Parthenon. Ao entrar no prédio vale a pena perder uns 15 minutos para assistir a um video onde é exibido como as estatuas foram retiradas do alto do prédio do Parthenon e foram transportadas para a nova casa. Um trabalho de engenharia fantástico. Porém, vendo esse video me fez pensar. Achamos incrível os engenheiros e suas máquinas fantásticas fazerem grandes obras. E não pensamos no óbvio que está às nossas vistas. Pois bem, vejam um dado muito interessante: aqueles gregos e seus escravos, no século VI a.C, construíram o Parthenon em nove anos. No século XXI com as máquinas, mais poderosas que humanidade já presenciou, os engenheiros e seus empregados levaram mais de dez anos para concluírem a obra do novo museu que era para se entregue em 2004 e só o foi em 2009.
Resolvida esse teorema, digno de Pitágoras, voltemos à nossa visita. Logo ao entrar você se depara com uma escada imponente e muito grande e os dois lados das paredes estão repletos de vasos e oferendas que eram colocadas no templo de Atenas e em todo o complexo de edifícios dedicados aos deuses e deusas. Um lado todo da entrada é dedicado às oferendas dos noivos para deuses darem vida feliz. De outro, o tumulo de um filosofo e a estatuaria nos quatro lados que ornam sua urna funerária onde você pode ver a viúva ser consolada e de outra a festa no céu (provavelmente) dos seus amigos que já haviam partido.
Ao subir a escada todo o primeiro andar vai te deixar sem fôlego ao ver a série de estatuas de mulheres em mármore pintado com cores fortes (hoje estão apagadas e só restam alguns resquícios do original). E o ponto alto da visita é poder ver de perto as cinco cariatides que estavam no templo menor dedicada a Atena, ao lado do Parthenon. Essas estatuas originais são aquelas condenadas pelos atenienses a suportar o peso do teto durante dois mil e seiscentos anos para se vingarem dos seus antepassados. afffff.
Depois de ficar meia hora contemplando as cinco cariatides você encontra a estatuária do período helenístico com o império do macedônio Alexandre, o grande, o visionário que sozinho, em cima de Bucéfalo, conquistou o maior império que um homem conseguiu sozinho. E as vezes fico pensando cá com meus botões. Acho que até hoje os militares de plantão das nossas republiquetas sonham, defronte ao espelho, quando estão apertando suas espinhas, em serem novos Alexandres mas, face a realidade e inviabilidade, e como são, na maioria inúteis, decidem pelo mais fácil: sonham em serem ditadores de plantão, daqueles parecidos com padres de quermesse.
Bem, já são 14h00 e o estomago começa a dar noticias que ele ainda existe em seu corpo e precisa ser enchido de alguma coisa. Viajante calejado já sabe que não se deve entrar em nenhum restaurante perto de museus ou monumentos. São todos caros e, na sua maioria, muito ruins daquele tipo de comida prá turista tipo macarrão com qualquer coisa, pizza margarita e alguns acepipes ruins de entrada para ir aplacando a fome.
O jeito é sair andando com calma pelas ruas cheias de lojas para turistas onde você encontra artesanato de qualidade excepcional e de excelente qualidade tanto em joias como roupas de linho e algodão egípcio. Peguei a rua Adrianou indo chegar até o largo do bairro de Plaka com dezenas de restaurante. Qual escolher? Veja o que está mais cheio e entre sem medo. Tenho certeza que vai encontrar comida barata e boa.
Pois foi o que aconteceu. Entramos no Gyros Kebab e pedimos dois pratos: salada grega, quatro katfas com tomates assados e uma garrafa de vinho branco (500 ml), total 20 euros. Mais barato que comer pizza em São Paulo.
Saindo do restaurante pegamos direção da rua Athina a principal rua de comércio da cidade, porém, e como sempre existe um porém, vi uma placa indicando mercado de pulgas e como não resisto a preços baratos entrei. Foram várias quadras com comercio popular até terminar numa pracinha com o mercado das pulgas mesmo e quando cheguei a feira estava acabando. Como o frio aumentou peguei o caminho do hotel e lá se foi mais um quilometro a pé.
Amanhã tem mais.
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