“Esta casa presta um grande serviço à poesia e à música popular brasileira. Quero que todos escutem bem o que vou dizer. No instante em que este povo brasileiro produz, já faz tempo, antes mesmo de Pixinguinha, o choro, como verdadeira música brasileira e que somos açodados pela força dos Estados Unidos contra a nossa cultura, eu vejo aqui que a música brasileira permanece nesta casa”, disse ele.

Tudo que um casal de enamorados queria para a noite do Dia dos Namorados o Tonico’s Boteco ofereceu: poesia e música. Uma poesia carregada de força contra as diferenças, contra a opressão mas produzida por uma homem que é puro amor e que segundo ele, em função disso, “vive para a vida”. O poeta Thiago de Mello, aos 80 anos, garante que vai morrer tentando melhorar o mundo pela palavra. “Para que isto seja possível porém, não basta que apenas eu produza versos. É preciso que cada um que me ouve ou lê, faça também a sua parte. Aí sim caminharemos rapidamente para um mundo melhor”.

A noite no Tonico’s Boteco ganhou muito com a presença do poeta. Mas foi a união dele com um grupo de homens que canta e toca seus instrumentos pelo prazer de fazer a felicidade dos outros que garantiu o clima de encantamento que permeou a noite. Poesia e samba. Thiago de Melho e Velha Arte do Samba. Não bastasse, surgiu por lá, ainda, outro peso pesado da literatura brasileira: Rubem Alves merecedor de um beijo estalado de carinho do poeta. “Em outros tempo uma cena dessa não seria bem vista. Mas ele é de outro mundo, outro mundo”, comentou o escritor sobre o beijo recebido na face.

Pelo lado da música a noite ficou mais encantada ainda quando, maleta preta e pesada à mão, chega ao Tonico’s Boteco um sanfoneiro de estirpe: Zé Paraíba. Ele veio convidado pelo Velha Arte do Samba para a segunda parte da gravação do Projeto Pratas da Casa, desenvolvido pela Unicamp. Na primeira, os presentes curtiram a voz e o violão de Alessandro Dias um jovem talento que desponta nas noites campineiras. A sanfona de Zé Paraíba aqueceu o ambiente e, por tabela, os corações apaixonados. Com ela ele embalou sonhos através de ritmos diversos, como a suavidade de um Carinhoso, até fechar a noite com duas outras consagrações nacionais: Brasileirinho e Tico Tico no Fubá.



Já passava da meia noite. Portanto, o Dia dos Namorados já era passado. Mas os casais ficaram lá, entreolhando-se, em afagos e carícias; entre beijos delicados e quentes, apaixonados. Entre os sozinhos a alegria não era menor afinal se outro Dia dos Namorados terminava, um novo, de Santo Antonio casamenteiro, naquele instante começava. A vida retomava seu rumo mas a noite havia, por certo, ficado marcado no coração de quem esteve no Tonico’s Boteco em 12 de junho de 2006.