Campinas/SP - Sexta, 22 de novembro de 2024 Agência de Notícias e Editora Gigo Notícias  
 
 
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Campinas-SP

 

CIDADANIA CONQUISTADA COM O USO DA INFORMÁTICA  


O Comitê para a Democratização da Informática (CDI) é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos que, desde 1995, desenvolve o trabalho pioneiro de levar a informática às populações menos favorecidas. Por meio nas EICs – Escolas de Informática e Cidadania – desenvolve programas educacionais e profissionalizantes visando diminuir a exclusão digital a que essas comunidades são submetidas. São 38 comitês nacionais, em 19 estados e, 9 internacionais. Em Campinas – onde começou a atuar em maio de 2000 – o CDI mantém atualmente 46 Escolas de Cidadania e Informática e, desde 2000, já atendeu mais de 6000 pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos. A meta é expandir o número de EICs para 50 até o final desse ano. A organização capta recursos técnicos e financeiros por meio de parcerias com empresas, instituições filantrópicas o poder público, que além de doarem equipamentos e verba, apoiam com trabalho voluntário, técnico e de instrução em aulas.


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O CDI não cria escolas apenas para ensinar informática, mas capacita as comunidades com ferramentas digitais para que possam praticar a cidadania


O Comitê para a Democratização da Informática (CDI)-Campinas inaugurou ontem (29/06/06) sua 51ª Escola de Informática e Cidadania na região, desta vez no Centro de Ressocialização de Detentos de Mogi Mirim/SP. A unidade tem cinco computadores e atenderá inicialmente cerca de 20 pessoas, em três turnos, com a proposta de utilizar a informática como instrumento de inclusão social. Um dos detentos está sendo capacitado para ministrar as aulas, de acordo com a proposta pedagógica da entidade. Esta escola nasceu de uma parceria entre o CDI e a Funap (Fundação de Amparo ao Preso), que prevê para o segundo semestre a instalação de um nova unidade no Presídio de Hortolândia.
Desde maio de 2000, o CDI atua na região de Campinas para promover a inclusão social utilizando as tecnologias de informação como instrumento para o exercício da cidadania. A entidade capta equipamentos e recursos junto a empresas públicas e privadas para montar escolas não-formais nas comunidades carentes, contando com apoio de voluntários para o trabalho técnico e educacional. A coordenadora pedagógica Helena Whyte enfatiza que "as empresas deixam de contratar não só por falta de conhecimento técnico, mas por falta de valores, conduta ética e responsabilidade, aspectos enfatizados nos nossos cursos".

CIDADANIA DIGITAL

As Escolas de Informática para Cidadania (EICs), criadas no Brasil pela organização não-governamental Comitê para Democratização da Informática (CDI), têm se alastrado com muita força pelos quatro cantos do país desde a sua fundação, no Rio de Janeiro, em 1995. Os números confirmam: 797 escolas abertas até o momento em 19 estados brasileiros, onde atuam 1.768 voluntários e capacitam aproximadamente 70 mil pessoas por ano. Nos últimos anos, esse projeto legitimamente brasileiro, ganhou o mundo com escolas instaladas no Japão, Argentina, Uruguai, Colômbia, Chile e México, num total de 173 escolas no exterior.
Todas as EICs têm o mesmo propósito: promover a inclusão digital e social daqueles que acompanham, marginalizados, a tecnologia da informática. Entre os alunos atendidos, além de populações de baixa renda, estão também deficientes físicos, presidiários, portadores de transtornos psiquiátricos e populações indígenas.
Em Campinas/SP o CDI funciona desde o ano de 2000, com a instalação de 51 Escolas de Cidadania para Informática, onde já foram atendidas cerca de dez mil pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos. Se a entidade encontrou o caminho para utilizar o computador como um instrumento de construção da cidadania e da inclusão social, muito disso se deve à força dos voluntários, que são capacitados para usar o conhecimento digital como ferramenta de modificação de sua realidade social.

UM CASO ESPECIAL - "Trilhei meu caminho depois de ficar tetraplégico"
Tetraplégico desde a adolescência, Fábio Bertelli Campos, 26 anos, viu sua vida mudar ao ingressar na Escola de Informática para Cidadania Nova Esperança, do CDI Campinas, no ano 2000. "Meu tio me deu um computador de presente depois que sofri o acidente, mas eu só sabia acessar a Internet, por isso me matriculei no curso", conta. À medida que conhecia os programas de informática, crescia o interesse em aprendê-los. "Em casa me dedicava ainda mais. Comecei a fazer trabalhos variados - currículos para os amigos, cartão de visitas, convite de aniversário - e a ganhar por isso!" Hoje, além de ter registro de autônomo para realizar esses trabalhos, Fábio também atua como professor de informática para cidadania na Sorri, uma organização não-governamental voltada para a inclusão de pessoas com deficiências no mercado de trabalho.



"No CDI aprendi sobre meus direitos e deveres enquanto deficiente físico e cidadão. Trilhei meu caminho e mostrei para todos a minha capacidade e competência. Conquistei minha independência financeira como trabalhador, não dependo mais do dinheiro de meus pais." Fábio Bertelli Campos

Ontem dona-de-casa, hoje educadora
Até pouco tempo atrás a dona-de-casa Emília Monteiro Alves Rodrigues, 46 anos, moradora no Jardim São Marcos, na periferia de Campinas, mal sabia ligar e desligar um computador. "Eu tinha muita curiosidade em aprender, por isso ingressei em 2005 na EIC do Centro Educacional Vedruna, em uma turma exclusiva para as mães dos estudantes do CDI", disse Emília. Com a ajuda dos educadores e tendo à sua disposição um micro exclusivo durante as aulas, Emília logo se familiarizou com os programas. Aprendeu a manejar o Excel, o Word, a fazer pesquisas na Internet. O empenho e a motivação de Emília chamaram a atenção dos coordenadores da EIC que a convidaram para atuar como educadora. Ela descobriu seu valor como professora voluntária de uma turma de alunos de 14 e 15 anos. "Sinto-me muito lisonjeada por ter sido escolhida para dar aulas. Com os alunos, realizo projetos variados que vão desde os direitos e deveres dos cidadãos até a importância da reciclagem de lixo."

Pronta para o recomeço
Condenada por um crime de falsificação de documento, Elizete Claudia da Silva, de 29 anos, viu sua vida mudar da noite para o dia. O cumprimento da pena em regime semi-aberto, a separação do marido e a necessidade de sustentar seus três filhos desencadearam uma depressão que só não foi pior pelo apoio recebido, em 2004, na Escola de Informática para Cidadania do Conselho Comunitário de Campinas (que atende preferencialmente egressos). "Cheguei à EIC desesperada. Não conseguia arrumar um emprego e nem sabia mexer em um computador. Logo estava aprendendo sobre vários programas. O educador percebeu meu esforço e me indicou para ser voluntária. Nesta época, vendia salgadinhos no intervalo das aulas. No ano passado fiz o curso de formação de educadores", conta. Elizete passou a ser professora remunerada da EIC Romilha Maria, em Campinas. "Faço o que gosto. Isso não tem preço! Aprendo com meus alunos e eles confiam em mim, o que nem eu mais acreditava", conta. E acrescenta: "A minha vida mudou pra melhor, graças à minha determinação e à ajuda de pessoas que acreditam que todos merecem uma segunda chance."

INFORMÁTICA COMO FERRAMENTA DE MUDANÇA

Editor de textos, planilha eletrônica, gerenciador de banco de dados, apresentações em Power Point, Windows, Linux,... Essas e outras ferramentas computacionais ensinadas deixam de ser protagonistas para servirem de pano de fundo nas pesquisas e discussões realizadas em sala de aula. Por meio do computador, os alunos descobrem novos acessos à informação e são estimulados a discutirem os problemas locais trocando experiências entre as comunidades. A partir daí, nascem projetos diversificados que são transformados em campanhas, publicações, atividades culturais, mobilização comunitária e outras ações com influências diversas no bairro em que moram.
"As EICs seguem o conceito de ´escola não-formal´, com uma estrutura organizacional composta por um coordenador, educadores e educandos. Ao se apropriar das tecnologias de informática como ferramenta, os alunos são incluídos digitalmente. Atuando de forma cidadã, podem aumentar suas oportunidades de emprego, gerar renda e modificar a realidade em que vivem", explica Helena Whyte, coordenadora pedagógica do CDI Campinas.
Na capacitação dos educadores, existe o cuidado em adequar o conteúdo aos públicos atendidos, ao mesmo tempo que garante o desenvolvimento dos trabalhos da EIC, de acordo com a proposta político pedagógica da entidade, desenvolvida pelos próprios colaboradores da Rede CDI. Muitos de nossos educandos, explica Helena, que fazem o curso com bom aproveitamento, passam a dar aula. "Daí, o educador que estava naquela comunidade, pode multiplicar seu conhecimento em outras unidades. Os educadores vindos da própria comunidade têm mais legitimidade para falar dos problemas locais e conhecem melhor sua linguagem", explica.

PROJETOS MOSTRAM RESULTADOS PRÁTICOS

Em 2005, várias ações multidisciplinares foram desenvolvidas pelas EICs de Campinas. A entidade lançou, no final de 2005, a Revista da Cidadania, onde relata seus projetos. Veja alguns exemplos práticos:

. Jornal Eficiente
O Jornal dos Eficientes da Casa da Criança Paralítica já existe há quatro anos, quando surgiu a parceria com o CDI e a Microcamp para a criação da EIC na entidade. Produzido pelos próprios alunos, a publicação foca a igualdade de direitos e divulga informações úteis.
. Informação evita evasão
Após refletirem sobre a grande evasão (de 20% a 60%) das atividades oferecidas pela Cidade dos Meninos, os alunos da EIC desenvolveram o Projeto Recepção, para receber os novos integrantes de maneira mais acolhedora e humana. Eles produziram e passaram a entregar o kit recepção (formado por materiais didáticos, gibi e CD-ROM explicativo) que apresenta a entidade e contribui para a adaptação dos novatos. Deu tão certo que, em 2005, não foi registrado nenhum novo caso de evasão.
. Rabisco sem risco
Ao perceber o aumento de imóveis pichados na comunidade, os alunos do Centro Promocional Tia Ileide (CPTI), localizado na Vila Mendonça, resolveram entrevistar 30 adolescentes entre 14 e 16 anos, entre eles muitos pichadores, para entender o problema. Para mudar o comportamento por parte deste público, realizaram um concurso de grafite com o tema Cultura Brasileira e, a partir daí, foram promovidas oficinas e cursos de grafite. Agora, ao invés de pichar, eles usam a técnica para tornar o bairro visualmente mais agradável.
. Reciclagem de lixo
Os alunos da Fundação Bezerra de Menezes estudaram efeito do descarte de lixo no ambiente e fizeram um trabalho de conscientização da população, informando sobre o dia e horário das coletas seletivas, orientando sobre como proceder na separação do lixo, além de mostrar possíveis soluções para o tratamento do lixo.
. Metas do Milênio
Na EIC do Cecoia, o alunos discutiram e decidiram colocar em prática as “Oito Metas do Milênio” (aprovadas pela ONU em 2000) por meio do convívio entre família, escola e comunidade. Foram feitas pesquisas e, para atender a uma das metas (acabar com a fome e a miséria), foi criada uma horta comunitária que abastece as famílias dos alunos. Paralelamente, foram promovidas palestras informativas para a comunidade a respeito das Metas, usando os recursos visuais produzidos no computador.
. Autonomia e Síndrome de Down
Temas como igualdade, dignidade e respeito às diferenças foram desenvolvidos pelos alunos do Centro de Educação Especial Síndrome de Down. Eles realizaram pesquisas na Internet, participaram de atividades didáticas como confecção de cartazes, jogos e digitação de textos. Dessa forma, aprenderam informática, exercitaram o trabalho em equipe, desenvolveram idéias e linguagem, além de adquirirem autonomia para usar o computador.
. Aprendendo com jogos
O software educativo RCT foi utilizado na EIC CPTI, localizada na Vila Francisca, para melhorar o desempenho escolar de alunos de 6 a 10 anos. Eles utilizaram vários jogos (treino lúdico de tabuada, bingo, memória etc), melhorando o raciocínio lógico, a noção de cores e alfabetização.

SONHO CONCRETIZADO

O primeiros passos do CDI foram dados em 1993, literalmente de um sonho tido pelo empresário Rodrigo Baggio, na época professor de informática de escolas particulares do Rio de Janeiro. O sonho deu origem a um projeto que desenvolveu junto aos seus alunos, cuja proposta era promover um diálogo entre os estudantes de diferentes classes sociais por meio da Internet. O serviço chegou a ter centenas de usuários, mas logo surgiu uma preocupação: quase a totalidade dos conectados era composta por jovens das classes média e média alta.
O desafio passou a ser o acesso das comunidades de baixa renda a essa tecnologia. Na época, foi desenvolvida a campanha Informática para Todos, com o intuito de arrecadar computadores usados para destiná-los a comunidades pobres. Mas era preciso mais, já que os micros arrecadados eram mal aproveitados nas entidades comunitárias por não existir uma cultura do uso da tecnologia.
Foi a partir daí que surgiu a idéia de se criar as Escolas de Informática e Cidadania, com a ajuda de professores voluntários que aliavam a tecnologia à promoção da cidadania, por meio de reflexões e debates feitos pelos alunos sobre a realidade de suas comunidades. A primeira EIC, criada no morro Santa Marta, no Rio de Janeiro, mostrou a solidez do projeto, que passou a ser adotado por outras cidades.
Fontes:
Helena Whyte, Coordenadora Pedagógica
Carlos Abras, Coordenador de Comunicação
Fone (19) 3273 0709 - www.cdicampinas.org.br

Reportagem: Cristiane Billis
Fotos: Gilberto Gonçalves
Pauta e Edição: Cibele Vieira


 


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Todos os recursos arrecadados são publicados anualmente no D.O.A.R. (Documento de Origem e Aplicação de Recursos), uma prestação de contas à comunidade e aos parceiros da entidade.

 
 
   
   
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