Opinião: A ATUALIDADE DO DOUTOR PANGLOSS
|
|
Daniel Santos é jornalista carioca, 55 anos. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo".
Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001. Atualmente publica crônicas semanais no site do Comunique-se.
Contato: daniel_santos2002@hotmail.com
» Baú
de Notícias
|
|
Nos últimos meses, autoridades brasileiras – pelo menos, aquelas arroladas nos crimes contra o erário – mantêm com a Imprensa um approach quase patético, talvez inédito, como se buscassem conivência.
De maneira geral – e, aí, se inclui até o cantor Roberto Carlos -, mostram-se indignadas com a invasão de privacidade ou com a divulgação de seus nomes, antes de os tribunais lhes comprovarem a suposta culpa.
Mas o tom de aliciamento coube, dia desses, ao presidente Lula, para quem a Imprensa só publica notícias ruins. Esse dublê de editor sugeriu, então, que também fatos positivos ganhassem manchetes.
Ele sugeriu, não impôs nada. Dessa mesma forma “democrática”, comporta-se atualmente uma censura mal-disfarçada que constrange os meios de comunicação: todos devem dançar conforme a música oficial.
E por que, hein? Por que devemos todos nos mostrar cordatos, coniventes, do tipo que acredita na condução governamental e apóia de maneira irrestrita seu modelo supostamente correto de desenvolvimento?
Ao que parece, o governo pretende impor um otimismo insensato, sem oposições, e repete, assim, na vida real, o Doutor Pangloss – celebérrimo personagem de Voltaire no livro Cândido, ou o otimismo.
Preceptor desse protagonista, Pangloss lhe ensina: por pior que esteja, tal é o melhor conseguido no momento. Deve, então, se contentar, mostrar-se satisfeito, pois logo experimentará prazeres ainda maiores.
Desprovido de crítica, viciado num otimismo patológico, o crédulo Cândido expia o escárnio geral, se bem para ele tudo continue dentro dos conformes. Tal não pode ser o nosso destino. Façamos figas.
|
|