E continuamos nossa cruzada em defesa do meio ambiente contra os maus predadores. O córrego,mesmo servindo como escoadoro do esgoto "in natura" da região, não pode ser aterrado dia-a-dia.
Com os aterramento constantes, a maioria realizados pela empresa de teraplanegem Só terra, o leito vai se estreitanto e criando vários pontos de represamento. Com isto o esgoto lançado pemanece por mais tempo exposto o que acaba por provocar muito mais mal cheiro.
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Leia aqui o texto "Empurra, empurra, empurra...a ponte não sai, não sai, não sai!" como ele foi produzido originalmente. As alterações foram necessárias para adequar à edição impressa:
"Quando Carlos Drummond de Andrade construiu seu celebre poema “No meio do caminho” ele apenas pretendeu enfatizar que no meio de seu caminho tinha uma pedra e que muita diferença faz uma pedra no meio do caminho.
Nós também aqui, “na vida de retinas tão fatigadas...” podemos plagiar o mestre e dizer: No meio do caminho devia ter uma ponte. Devia ter uma ponte no meio do caminho...
E por que não está lá no meio do caminho a ponte que lá deveria estar? Simples, porque a ponte não é a pedra que Drummond viu no meio do seu caminho. A pedra estava no caminho dele, mas a ponte não está no nosso. Questão de época, de ponto de vista de retinas fatigadas e, principalmente de competência.
Esqueçamos a pedra. Foquemos a ponte, apenas. De quem é aqui nestas Campinas a competência pela construção de uma reles ponte? Se é que de ponte pode se chamar. Melhor seria travessa ou quem sabe até mesmo pinguela. Afinal, ponte é lá para outro grande poderoso da escrita Euclides da Cunha, assim chamado “um construtor de pontes”, pois no distante ano de 1898, ajudou a reconstruir a ponte de São José do Rio Pardo que desabara naquele dia 23 de janeiro. A tarefa foi marcante. Euclides da Cunha decidiu refazer a ponte que desabara sobre o Rio Pardo e inaugurou sua obra em 18 de maio daquele mesmo ano.
Mas esqueçamos também o Rio Pardo com seus 573 quilômetros de curso, seu forte potencial hidroelétrico com as represas Euclides da Cunha, Limoeiro e Caconde e um dos principais afluentes do Rio Grande na divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Foquemos no outrora límpido e piscoso córrego que cruza a Rua Hermantino Coelho, sem nome, hoje fétido e entulhado, tem apenas a “nobre” missão de escoar o esgoto in natura de bairros – estes sim nobres, de nomes pelo menos – como Chácara Primavera e Mansões Santo Antonio e toda demais redondeza.
Claro está, portanto, que se a empreitada nem de longe pode lembrar a de Euclides da Cunha, ela só não foi ainda executada por questões mesmo de competência, ou melhor, de falta dela. Falta competência aos que administram esta pujante Campinas de hoje. Se fosse 1898 poderíamos chamar “o construtor de pontes”. Mas já é 2010. Estamos a 112 anos do geometrismo euclidiano e nosso burgo mestre – não confundir com Cordisburgo, terra natal de outro ‘fera’ da escrita; João Guimarães Rosa – é um pediatra.
E o que entende um pediatra de pontes? Portanto a questão hoje é de competência, ainda que seja para transpor um mero “córgo” – no mais mineiríssimo linguajar. Mas Campinas está inserida nos novos tempos onde não se administra mais sozinho. Assim o burgo mestre Hélio de Oliveira Santos, médico pediatra, supera sua incompetência em área como engenharia indicando, através do poder que lhe conferiu os votos que o tornou prefeito (o mesmo que burgo mestre), homens e mulheres tidos como competentes para aquelas áreas. São os secretários do governo eleito. A moderna e pujante Campinas hoje tem 21 secretarias.
Parece então simples a questão da construção da tal “ponte”, “travessa” ou “pinguela” da rua Hermantino Coelho. O prefeito manda e o secretário competente executa. Simples? Nem tanto. Qual secretaria deveria assumir a competência da obra. Obra? Se é obra: Secretaria de Obras. Acontece que no organograma da atual administração municipal não consta a tal Secretaria de Obras. Não importa. Por questões semânticas a competência pelas obras em Campinas é da Secretaria de Infra-Estrutura. Então continua simples. O prefeito Dr. Hélio manda e o secretário Osmar Costa, da Infra-Estrutura, executa.
Não funciona bem assim. Os novos tempos trouxeram consigo o muito falado e pouco cumprido enxugamento da máquina. Quanto menos gente na folha de pagamento melhor. Deveria ser mesmo. Vai daí que a secretaria de Infra-Estrutura, mesmo tendo entre suas competências a “construção e reparos de pontes,” para executar grande parte das obras e também movida pelo tal “enxugamento da máquina,” acaba contratando por concorrência pública, empresas competentes para a execução. Fica para sai a responsabilidade/competência do projeto e fiscalização da execução.
E a ponte da Hermantino Coelho. A Ifra-Estrutura já terminou o projeto. Coisa simples e razoavelmente barata pois não é uma ponte mesmo. É uma transposição do córrego pelo sistema de canalização parcial onde se usa peças de concreto pré-moldadas conhecidas como aduelas. Na verdade elas só tem paredes e quase sempre tem formato retangular. São colocadas no córrego como se fossem grande manilhas e sobre elas estrutura-se o leito da rua e as calçadas. Assim, sem uso de estrutura metálica ou mesmo vigas de concreto, a obra tem custo final bastante reduzido.
Então basta colocar as aduelas e fazer o acabamento da rua? Em resumo sim. Mas não esqueçam que o córrego hoje serve como escoadouro de esgoto in natura da região. Daí, fazer a obra, mesmo a mais simples delas antes de resolver o problema do esgoto, seria o mesmo que colocar a carroça na frente dos bois. E quem resolve o problema do esgoto a céu aberto do córrego?
A Sanasa.
A Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A. – SANASA é uma empresa de economia mista por ações, criada em 1973 para prestar serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário no município de Campinas. E quem manda lá é seu presidente. Hoje o cargo é ocupado pelo ex-prefeito de Campinas, Lauro Péricles Gonçalves que foi indicado pelo prefeito Dr. Hélio. Por questões de hierarquia era só o prefeito mandar que o presidente da Sanasa executaria. Mas, como toda boa empresa de economia mista (parte é pública e parte é privada) ela também tem, internamente, uma estrutura de mando. Abaixo da presidência há três diretorias. Uma delas é a Técnica e é também a que responde pelos projetos e obras e mais oito setores díspares como transporte, comunicação social e gestão de qualidade.
Com o não há obra sem projeto, para resolver a questão do esgoto que atrapalha a construção da ponte, a Sanasa colocou, durante três meses, técnicos nas margens do córrego para o levantamento topográfico. Ele define o melhor caminho para a rede de esgoto percorrer desde sua origem até o destino pretendido. Como desbravadores os funcionários enfrentaram todo tipo de dificuldades incluindo o insuportável mau cheiro. E pior de tudo para refazer o que já foi feito há alguns anos. Isto mesmo, a topografia e o projeto das galerias de esgoto foram feitos quando os prédios começaram a ser erguidos no quarteirão compreendido pela rua Luiz Otávio, Jasmim, Clóvis Ferreira e Hermantino Coelho. Ora, e por que fazer tudo novamente?
A Só Terra
Da época em que os prédios começaram a surgir até hoje muita coisa mudou. Algumas poucas para melhor outra para muito pior. Entre estas que pioraram muito, está a topografia do terreno por onde deve correr a rede de esgoto. Entre as causas que contribuíram sobremaneira com a deterioração das margens do córrego (e portanto onde se pretende instalar as redes) foi a ação descontrolada da Só Terra, uma empresa de terraplanagem localizada no Santa Cândida. Ou seja, ela está situada na região que sofre com o sério problema do esgoto e, ao contrário de ajudar a minimizá-lo, mais contribui para torná-lo ainda mais grave.
Sua ação tem sido denunciada já há algum tempo por moradores das proximidades de sua sede na Rua Lauro Vannucci e do terreno utilizado como depósito de terra na mesma rua esquina com a rua Dr. Lourenço Martyr de A. Prado. Depois que o Jornal ALTO TAQUARAL começou a circular, várias as irregularidades provocadas pela Só Terra acabaram transformadas em matéria jornalística. Começou com uma obra de terraplanagem para a empresa Arquivum cuja sede também fica à margem do córrego. A polícia ambiental foi acionada e autuou as empresas. Depois foi a derrubada da mata ciliar na margem oposta na mesma direção da Arquivum.
Não demorou muito e a Só Terra se envolveu novamente em flagrante irregularidade ao aterrar de um lado ao outro o córrego na direção da rua José Augusto Silva. Mais uma vez a polícia ambiental foi acionada e aplicou outra autuação na empresa que se defendeu alegando estar autorizada pela prefeitura. Pelo envolvimento direto o responsável pela Administração Regional foi repreendido por seus superiores. E agora lá está novamente a Só Terra a despejar entulhos de construção civil na beira do córrego para nivelar o terreno que usa como depósito de materiais e máquinas.
E o que a Só Terra tem a ver com o esgoto e a ponte? Com suas ações às margens do córrego vai provocar a necessidade de muito mais tempo e dinheiro da administração pública para a realização da rede de esgoto. Se antes ela seria feita praticamente toda apenas cavando-se valetas para a colocação das manilhas da rede, agora haverá a necessidade de furar túneis em várias partes do trecho por causa dos aterramentos de terrenos feitos desordenadamente pela Só Terra.
Não bastasse tudo isto, ao final dos trabalhos de topografia, uma técnica do setor de Planejamento e Projetos, em vistoria ao local, levantou outra questão preocupante. Mesmo dentro da Sanasa há divergências com relação a ponte da Hermantino Coelho e a rede de esgoto que precisa ser feita. O desencontro de opiniões está em decidir o que fazer primeiro: a ponte ou o esgoto? Quem conhece muito bem a região e já participou do planejamento anterior acredita que a forma mais adequada seria um trabalho conjunto entre prefeitura e Sanasa o que, segundo o mesmo entendido é algo praticamente impossível dada a dissonância entre as duas instituições.
A contaminação
Mas quando se pensa que uma sintonia entre Prefeitura a Sanasa poderia por fim ao dilema do esgoto e ponte ao mesmo tempo, uma outra situação é colocada como entraves às obras. O problema é antigo. Diz respeito à contaminação de solo provocada pela Proquima, uma indústria química que funcionou até 1986 na rua Hermantino Coelho. Mesmo encrencada com a Cetesb a Proquima conseguiu vender o terreno para a Concima Construtora que começou a erguer o Condomínio Primavera no local. Quando o Meio Ambiente comprovou a contaminação do solo, a obra da Concima foi interrompida legalmente. A Concima alegou que comprou o terreno da Proquima em condições legais pois esta teria apresentado documento que isentava o terreno de qualquer entrave. Além disso a Concima conseguiu alvará da prefeitura para construir no local.
Vai daí que neste tempo todo, a contaminação se espalhou pela área em direção ao córrego em função do declive do terreno. Com intervenção da Promotoria do Meio Ambiente a área foi interditada para qualquer tipo de movimentação de terra. Os projetos “floparam”. O preço da terra despencou. Obras pararam. Proprietários praticamente abandonaram propriedades. E, assim, o empurra-empurra continua até hoje. Na primeira edição do Jornal ALTO TAQUARAL a matéria de capa foi o descaso com a contaminação. A Concima empurra para a Prefeitura, que empurra para a Cetesb, que empurra para a Proquima, que empurra para a Promotoria, que empurra para o Meio Ambiente, que empurra para a Saúde, que empurra.. E quando se pergunta qual é exatamente a área contaminada, ninguém sabe afirmar.
E o que tem a ver a contaminação com o esgoto e a ponte? Simples. Enquanto a área não for totalmente e legalmente liberada não se pode fazer nenhum tipo de movimentação e terra e, assim, a rede coletora do esgoto dos imóveis à esquerda do córrego não pode ser construída. Sim porque o projeto prevê duas redes seguindo paralelamente ao córrego em cada uma de suas margens até ultrapassar a rodovia D. Pedro e, depois de lá se transformarem em uma e seguir rumo a ETE 4. A alternativa apontada por técnicos da Sanasa seria trazer o esgoto dos imóveis à esquerda do córrego até um coletor que seria ligado à rede da margem direita através de uma transposição. Mas isto implicaria em gastos hoje para refazer a rede amanhã quando a área for liberada.
Assim, por um monte de desmandos e descasos, a ponte não sai por causa do esgoto, que não sai por causa da contaminação. E no meio de tanta gente poderosa, o rescaldo sobra mesmo para os pobres Severinos que, como porteiros dos prédios da redondeza, são obrigados a cumprir jornadas de trabalho entre oito e doze horas respirando o fétido ar que aumenta a cada dia, pois com a obstrução do leito do córrego pelos aterramentos, os dejetos lançados ficam represados.
Este texto não é ficcional e as informações estão embasadas em conversas e mais conversas com poderosos e não poderosos envolvidos direta ou indiretamente com o problema da ponte. E entre os não poderosos está o corajoso Severino Matos de Lima, porteiro do Aldeia da Mata, que apesar da audácia em convidar o prefeito para um marmitão (a idéia foi dele mesmo), não mereceu do burgo mestre médico Hélio de Oliveira Santos nem mesmo uma desculpa para não aceitar o garboso convite. Quando a ponte for inaugurada e o mau cheiro acabar, certamente o burgo mestre vai se fazer presente para descerrar a placa e se Severino ainda estiver por lá quem sabe DR. Hélio lembre de chamá-lo para “aparecer na fita”.
Gilberto Gonçalves
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