Campinas/SP - Sábado, 11 de maio de 2024 Agência de Notícias e Editora Gigo Notícias  
 
 
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DOS TEMPOS EM QUE SE SONHAVA ACORDADO  


Daniel Santos é jornalista carioca, 55 anos.
Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo".
Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001. Atualmente publica crônicas semanais no site do Comunique-se.
Contato: daniel_santos2002@hotmail.com


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Baú de Notícias

   


Há cerca de uma semana, tive de acordar mais cedo que de costume e, em virtude de um fatigante dia de trabalho, me confundi: em vez de utilizar o despertador, como sempre, programei o rádio para as cinco horas.
Não atentei à altura do som nem à emissora e, assim, pontual, despertei com a trombeta de Gedeão em meus ouvidos, tal a estridência de excessivos decibéis que me arremessaram sem piedade contra a manhã.
Tinha tudo para levantar mal-humorado, ainda mais que uma dupla caipira esganiçava-se a não mais poder no rádio como se conhecesse minha habitual resistência aos primeiros passos, mas me senti subitamente feliz!
Porque era assim na minha infância. Enquanto ouvia da cama Inezita Barroso cantar “Menino da porteira”, me chegava da cozinha o buquê do mingau de maizena com canela: uhm ... nossa primeira refeição!
Depois, meus pais iam para a fábrica e eu, para a escola, mas à noite tudo recomeçava com um simples giro do dial. A novela “O direito de nascer” paralisava o país e lá em casa não era diferente. Vibrávamos!
Melhor ainda quando ouvíamos rádio no escuro, o que acontecia quase toda semana na época do racionamento de energia. À luz de velas, imaginávamos situações (as nossas imagens) que a tevê não supria.
Hoje, as imagens chegam prontas e, antes mesmo de manifestarmos vontade de ver isso ou aquilo, um excessivo cardápio visual tira o apetite de qualquer um: aprendemos a passividade e o conformismo desde cedo!
Na tela, nada se esconde, tudo se permite. Isso basta para anular o desejo, a importância da transgressão, da fabulação, das invencionices que, antes, saíam do imaginário para o espírito em permanente enriquecimento.
Agora, a coisa é bem outra. A imagem nos adula, nos induz e nos determina, mas espera que, em retribuição, nos tornemos consumidores. Com o rádio não era bem assim, porque escapávamos pela imaginação .
Verdade que a tevê (audiovisuais, em geral) veio para ficar, mas ela não desautoriza o rádio – mídia ainda relevante. Ainda e até quando um de nós, ao menos, sentir aquela velha e salutar vontade de sonhar acordado.


 

 
 
   
   
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