NÃO SE DEVE ACREDITAR EM TUDO
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Daniel Santos é jornalista carioca, 55 anos. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo".
Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001. Atualmente publica crônicas semanais no site do Comunique-se.
Contato: daniel_santos2002@hotmail.com
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Desde que a memória alcança, pode-se dizer que a juventude sempre foi aguardada como a época em que as pessoas podiam casar para procriar e para atender, assim, às demandas do exército e da produção.
À medida que os Estados nacionais estabeleceram outras formas de dominação, que não a guerra, as forças armadas reduziram seus quadros, da mesma forma que novos inventos substituíram o braço pela máquina.
Não era mais necessário casar logo, e muita gente se libertou daquela obrigação de prover o progresso com a oferta de seus filhos. De início, sem papel social, eles logo se transformaram em consumidores.
A juventude, tal como a conhecemos, hoje, é fato evidente apenas a partir dos anos 50 do século passado, quando os transviados saíram de lambreta pelo mundo em busca de caminho e de linguagem próprios.
Quanto à linguagem, tornou-se vitoriosa e universal, mas o caminho... Não há caminho independente possível no mundo de resultados previsíveis que valoriza o planejamento e exige rápido retorno financeiro.
Por isso, a viagem libertária que começou com a lambreta dos anos 50 e terminou com as Harley-Davidson dos anos 70 perdeu o fôlego na década seguinte: de colarinho branco, o jovem virou um executivo.
Ele é sarado, depilado, tem pressa. Não pode perder oportunidades de negócios e, via internet, desloca milhões de dólares de um mercado para outro, impune, individualista, sem solidariedade com os desvalidos.
Em suma: sem a antiga chama revolucionária, ele aderiu ao sistema que o quer eficiente e, por isso, de certa forma, envelheceu. Claro, ainda tem neurônios, mas não os usa e deixa que os demais pensem por ele.
Atento a qualquer cochicho que lhe sugira o caminho da felicidade, o jovem de hoje está à mercê dos modismos, mas de modismos que esvaziam seu bolso e o encaminham, na verdade, à perdição da sua alma.
Neste mundo tagarela das comunicações, em que as informações proliferam sem controle, é preciso ter audição seletiva. Não se deve acreditar em tudo. Silêncio e livre-arbítrio ainda são os grandes trunfos.
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