"A COMUNICAÇÃO É MULTICOLORIDA", por Daniel Santos
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Daniel Santos é jornalista carioca, 55 anos. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo".
Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001. Atualmente publica crônicas semanais no site do Comunique-se.
Contato: daniel_santos2002@hotmail.com
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“A agressão de negros contra brancos é natural”, disse dia desses a ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial, sem suspeitar (ora, vejam só!) do próprio racismo.
Porque, ao reduzir a questão a duas etnias, ou melhor, a duas cores, limitou à dualidade alvinegra o amplo espectro da aquarela brasileira que, longe de ser cor-de-rosa, desdobra-se em matizes bastante encardidos.
Além da infeliz declaração, a ministra perde ponto no currículo por desconhecer uma lenda sabida pelas crianças do primeiro grau, a respeito da importância das cores para a Humanidade, conforme se lê a seguir:
“Antes de Céu e Terra se casarem, eles apenas se observavam, sem esperanças de um simples encontro, porque desconheciam a linguagem um do outro e viviam, assim, a insossa melancolia dos meios tons.
Num silêncio de constranger a própria natureza, faltava-lhes a exuberância dos grandes amantes, mas aprenderam, afinal, a lição máxima certa manhã em que um pavão pôs-se a cortejar sua fêmea sob o sol.
O mundo até então gris, discreto demais para conter o ímpeto, encheu-se de cores! Parecia delírio, mas era verdade: o emplumado galã tanto queria impressionar a companheira que não economizava nas tintas.
Céu e Terra logo aprenderam que o desejo requer mãos e demãos de intensidade. Então, enquanto uma passou a exibir o verde da mata, o outro faiscava o azul do éter, a púrpura do crepúsculo, o amarelo outonal ...
E, depois de criarem as cores, estas se enfeixaram como suntuosa passadeira que se desenrolou até o Céu. Nascia o Arco-Iris – o mensageiro dos grandes amantes que, através dele, puderam, enfim, se comunicar.”
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