Crítica: “HÁ FURTOS E FURTOS, ENSINA A MÍDIA”
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Daniel Santos é jornalista carioca, 55 anos. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo".
Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001. Atualmente publica crônicas semanais no site do Comunique-se.
Contato: daniel_santos2002@hotmail.com
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É freqüente o noticiário de pessoas que cumprem meses de prisão, pelo furto de algum produto no supermercado. Em geral, gente pobre, do sexo feminino e que, embora sem antecedentes criminais, é tratada pela banda leviana da mídia como facínoras sem direito a retratação.
Claro, pode-se falar mal à vontade dessa categoria que, por falta de recursos, não tem advogado, seus reclamos só chegam aos ouvidos dos políticos na época das campanhas e, vai ver, nem o censo a inclui entre os habitantes do país. Gente sem voz nem representação.
Mas no caso de alguém de renome, como o rabino Henry Sobel, a coisa muda de figura. Flagrado dias atrás furtando gravatas de uma cara butique masculina, foi preso como qualquer mortal, mas já goza liberdade para tratar-se com médicos especializados em distúrbios da psique.
Ele não se livrou do pior apenas porque tem poderosa retaguarda. Além disso, o rabino cumpriu com louvor o ritual da hipocrisia que tanto agrada aos moralistas: admitiu o furto, mostrou-se arrependido, pagou a fiança, declarou que ignora como chegou ao ponto de furtar, pediu desculpas a todos, diz-se indigno de representar os seus e internou-se numa clínica.
Mais não disse nem lhe perguntaram. Sequer o taxaram de cleptomaníaco, como é comum ler nos jornais em casos assim, embora tal diagnóstico fique sempre a cargo do repórter, e não do psiquiatra.
A admissão da doença absolve ou quase absolve o réu perante a opinião pública. Mas, e quanto à mídia? Não é arriscado dar tratamentos desiguais a pacientes da mesma clínica? Por que uns são criminosos e outros, enfermos? Afinal, essa discriminação seria o segredo do negócio milionário da mídia?
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