O crescimento imobiliário de Campinas anda em ritmo acelerado. Entre janeiro e setembro de 2008, a cidade teve uma demanda de 10.834 novas unidades (projetos aprovados), um crescimento de mais de 69% em relação a 2007. Deste total, 35% está concentrado na chamada Macrozona 4, região que abrange os bairros localizados na área situada entre a Avenida Heitor Penteado (Taquaral) até a Rodovia Dom Pedro, conhecida por Alta Taquaral. “É sem dúvida a região que mais cresce na cidade”, afirma Francisco de Oliveira Lima Filho, presidente da Habicamp – Associação Regional da Habitação.
O levantamento feito pela entidade revela que os bairros nessa área receberão, nos próximos cinco anos, cerca de 150 mil novos moradores, que ocuparão as 3.249 unidades construídas a partir de plantas aprovadas em 2008, sendo 1.137 horizontais (casas) e 2.112 verticais (apartamentos). Mas esta demanda deve se retrair em 2009, segundo avalia o presidente da Habicamp, “em função da crise mundial que contribuiu para tornar o mercado mais saudável”. Ele afirma que as grandes construtoras estão reavaliando seus planos e há uma tendência de redução da ordem de 15% nos projetos para 2009.
Crise regula mercado
Francisco Lima pondera que o valor do metro quadrado cobrado na região (3 a 4 mil reais o m2) vinha crescendo de maneira incompatível com a qualidade apresentada e, após o susto da crise internacional, eles se acomodaram em um patamar mais real. Os preços dos imóveis, segundo ele, estavam cerca de 30% mais elevados em comparação a bairros nobres que não tem mais espaço para crescer. A corretora Paula Vilar concorda com essa avaliação. Nos últimos dois anos, ela manteve estável a média de dois a três imóveis comercializados por mês no Alto Taquaral.
“Assistimos a uma supervalorização, mas agora os preços estão voltando a realidade e os compradores já começam a encontrar imóveis na região com valores menores”, diz ela. Com isso, a previsão é de um novo contexto em 2009, pois os compradores estão inseguros em assumir dívidas de financiamento e quem tem imóveis para investimento devem colocar para aluguel, esperando um momento de melhor valorização. Por outro lado, quem tem dinheiro disponível pode conseguir bons negócios à vista, avalia Paula.
Aumentam mortes em obras
Campinas tem hoje cerca de 30 mil trabalhadores em construção civil. Destes, entre 10 e 15 mil atuam na informalidade, principalmente em condomínios fechados ou em obras particulares de reformas e ampliações. E é nesses locais que ocorrem o maior número de acidentes. Só este ano, já foram registradas seis mortes na cidade (foram 4 em 2007) e, destas, três nesta região.
A morte mais recente ocorreu no início de outubro, na obra de ampliação da Padaria Primavera (Rua Girassol) e as outras duas no início do ano em Alphaville II (na Rodovia Dom Pedro, quase em frente ao Galleria), todas por soterramento em escavação de fossos para elevador. A informação é de Francisco Aparecido da Silva, diretor na área de Saúde e Segurança do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção e do Mobiliário.
Ele salienta que “a escavação da rua Girassol não estava sendo acompanhada por um engenheiro técnico responsável especificamente pelo fosso (como manda lei), faltou espaço para socorro de emergência e o trabalhador soterrado não usava o sarilho (cinto de segurança ligado por cabo a um cilindro de resgate)”.
Segurança e informalidade na mira
de trabalhadores e empresários
O Sindicato dos Trabalhadores afirma que o aumento de acidentes por falta de prevenção ocorre principalmente nas obras informais e em pequenas empresas. Embora não tenha números oficiais, a entidade diz que “o aumento de obras não está sendo acompanhado proporcionalmente nas questões de segurança e os prazos de entrega curtos podem contribuir para o aumento do índice de acidentes”. Indícios de irregularidade podem ser denunciados ao Sindicato dos Trabalhadores e ao CREA.
O Diretor Regional do Sindicato da Construção (Sinduscon), Luiz Cláudio Amoroso, afirma que a entidade tem intensificado o trabalho de prevenção de acidentes em obras, mantendo um técnico de segurança para orientar as empresas associadas e promovendo gratuitamente seminários, palestras e cursos sobre o tema. Ele afirma que “o maior problema está relacionado a informalidade, e embora a formalidade não nos isente do acidente ela diminui muito a possibilidade”.
Levantamentos do Sinduscon constatam que na área de Construção Civil no Brasil, para cada um trabalhador formal (com registro) há dois informais. As empresas são obrigadas a fornecer equipamentos de segurança e obrigar o uso, mas o Sinduscon reconhece que “a conscientização individual nem sempre é fácil”.
Planos regionais para organizar crescimento
As alterações de zoneamento urbano realizadas na última década permitiu vários projetos de verticalização em locais onde o Plano Diretor da cidade não permitia, como por exemplo, na região do Alto Taquaral. Foi um dos fatores que acelerou o adensamento populacional da região, principalmente nas imediações do Parque Dom Pedro Shopping.
Mas a Secretaria de Planejamento está preocupada em conter o crescimento desorganizado sem a adequada infra-estrutura viária e prepara, para o final de 2009, um Plano Diretor local discutido com a população e com detalhamento urbanístico capaz de planejar as bases necessárias para o crescimento organizado.
O secretário de Planejamento, Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Alair Roberto Godoy, considera que a Macrozona 4 - onde está o Alto Taquaral ao lado de shoppings, universidades e centros de tecnologia - é considerada uma das mais complexas da cidade devido ao alto grau de urbanização já consolidado. Os Planos regionais são uma obrigatoriedade do Plano Diretor da cidade aprovado em 2006, e deverão ser desenvolvidos nas nove macrozonas da cidade.
Trânsito é o grande problema
A Secretaria de Planejamento da Prefeitura diz que as questões relacionadas ao Saneamento (água e esgoto) não preocupam, “pois o volume de construções ainda está dentro do que a infra-estrutura implantada na região tem capacidade para absorver”. Mas concorda que, nesse momento, o trânsito é um “gargalo que precisa de solução urgente.” Nesse sentido, já encaminhou ao Gabinete do Prefeito sugestões para abrir a rua Luiz Otávio, que deverão ser discutidas inicialmente com a CPFL e posteriormente com outras empresas que ocupam o leito da rua.
Uma das reivindicações da AMOSCA (Associação dos Moradores de bairros da região) é a construção de uma ponte na rua Hermantino Coelho, para ligar o bairro Santa Cândida a rua Luiz Otávio e, desta forma, aliviar o trânsito que hoje está concentrado na rua Jasmim. Esta proposta já foi considerada viável pela Prefeitura, alguns deputados já aprovaram verbas para a construção e a Habicamp também soma esforços para que o projeto seja viabilizado em 2009.
“Está faltando força política para que a ponte saia, pois está tudo pronto”, diz o presidente da Habicamp, Francisco Lima Filho. Ele pondera que uma das questões que pode estar adiando a obra é a contaminação provocada pela Proquima (que impede inclusive a liberação dos habite-ses do Condomínio Parque Primavera) pois qualquer intervenção que provoque escavação está proibida até que se certifique que a pluma contaminante está contida e estabilizada. Os estudos e testes estão sendo realizados pela Concima, que se nega falar sobre o assunto.
Novo perfil acaba com creche gratuita
Uma das conseqüências da expansão e modernização da região está causando muita polêmica entre as domésticas que utilizam a creche e ambulatório Dr. Cláudio de Souza Novaes, localizado na rua Santa Maria Rosselo. Elas vêem de outros bairros para trabalhar nos novos condomínios e contavam com a entidade para deixar os filhos em período integral, mediante contribuições espontâneas. Mas foram surpreendidas, no final de outubro, com a notícia que a partir de 2009 o local funcionará como escola particular. Hoje são atendidas 296 crianças (do Maternal ao Infantil III) e havia 200 na fila de espera.
“A maioria das pessoas que utilizam nossos serviços não são moradores dos bairros vizinhos e isso praticamente determinou o fim da filantropia, que deve ser destinada aos moradores locais carentes”, explica a irmã Maria José Rodrigues Campos, diretora da entidade. A unidade atua desde 1981 como creche e ambulatório e, no início, atendia principalmente os moradores das favelas vizinhas. “Hoje o perfil mudou, estamos atendendo moradores de 50 bairros diferentes, então a idéia é usar as instalações como escola paga para que possamos direcionar o arrecadado para obras sociais em bairros mais carentes”, explica a religiosa.
As mães que tem seus filhos na creche serão chamadas para uma avaliação que determinará o valor possível de contribuição de cada família nessa fase de transição. Mas as 60 novas vagas preenchidas anualmente já serão destinadas, no início do próximo ano, aos alunos pagantes. “A mudança é irreversível, mas nenhuma criança ficará sem vaga por impossibilidade de pagamento nesse ano de transição”, garante a diretora.
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