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ENTREVISTA

 

JUREMA ESTEBAN  

"Foram muitas noites perdidas..."


Por Fábio Guzzo



Uma vida dedicada ao Colégio Porto Seguro: esta é Jurema Esteban, 42 anos, diretora da Unidade III/Panambi, sediada na capital paulista. Em 1980, ela trabalhou como datilógrafa no Porto. Logo após cursar Pedagogia, muitas portas foram abertas dentro da Instituição. Lecionou durante nove anos, foi orientadora educacional e, em 1999, chegou a direção da Unidade III.

Foi Jurema, juntamente com os outros três diretores das outras Unidades do Colégio, que encamparam a Festa de Comemoração que reuniu 46 mil pessoas dia 20 de setembro no Morumbi. Nesta entrevista, ela conta como foram estes doze meses de preparação da comemoração (isto mesmo, desde a concepção da Festa até sua execução passou-se um ano!) e alguns dos percalços vencidos.



Como nasceu a idéia de uma festa nesta magnitude?

Era um sonho de nossa diretora, Mariana Battaglia. Periodicamente, nós fazemos festas em nossas Unidades; festas que envolvem alunos, pais e funcionários. Giram em torno de 10, 15 mil pessoas. Estas comemorações são organizadas nas nossas escolas, espaços que nós conhecemos e sabemos como utilizá-los. Nunca havíamos feito uma festa para um público quatro vezes maior, em um ambiente que não dominávamos e que era monstruoso: o Estádio do Morumbi.



E como foi a organização da Festa, como foi pensada a logística?

Em fevereiro, nós contatamos várias empresas que ficariam encarregadas da organização. Mas algumas disseram que, pela dimensão da festa, quatro meses de preparação era pouco; outras disseram que não se responsabilizariam pela segurança. No fim, percebemos que a festa não ficaria do jeito que nós queríamos. Resolvemos, então, que nós mesmos deveríamos arregaçar as mangas para fazer uma festa que tivesse a nossa cara.

Algumas coisas, como os shows e os prêmios sorteados, foram fornecidos pelos nossos patrocinadores. Outras, foram levadas a cabo por nós mesmos. A segurança interna, por exemplo, foi feita pela empresa que cuida da segurança das nossas unidades e a ronda externa foi cumprida pela Polícia Militar.

Outro ponto que sempre orientou nossas atuações eram as reuniões semanais. Toda quarta-feira, todos os diretores das Unidades discutiam as diretrizes gerais da Comemoração. Deste modo, cada diretor ficava responsável por um tema (segurança, trânsito, alimentação) e por alguma tarefa que teria que ser concretizada ao longo da semana.

Além disso, a cada 20 dias nos reuníamos com o Conselho da Fundação que geri o Colégio. Fazem parte deste Conselho pais e ex-alunos. Eles sempre forneciam contribuições preciosas que nos orientaram ao longo do mês. Somando todo este pessoal, eu diria que cerca de 30 pessoas estiveram envolvidas na organização da Festa.


A Festa contou com a participação de ex-alunos. Como foi o contato com este pessoal?

Nós temos uma lista virtual de informações na qual se cadastram os atuais e ex-alunos. Além deste instrumento, colocamos anúncios em grandes órgãos de imprensa, como a Revista Veja, a Folha de São Paulo e o Estadão. Mas o que mais contou foi a propaganda boca-a-boca, em que colegas de turmas já formadas entravam em contato uns com os outros. E foi curioso: de acordo como nossas previsões, estariam presentes no evento pessoas a partir da turma de 1930. Para nossa surpresa, esteve lá uma ex-aluna de 1924.


Nós sabemos que em dias de jogos, o Morumbi recebe milhares de torcedores, da mesma forma que recebeu os 46 mil convidados do Porto. Para minimizar o problema do tráfego nesses dias, as ruas no entorno do Estádio são interditadas. Qual foi o esquema pensado por vocês para facilitar o acesso dos alunos e pais?

Fechamos uma parceria com uma empresa de táxi renomada aqui da capital. Levantamos os valores, os tipos de carros oferecidos, as formas de pagamento e disponibilizamos todas estas informações para os convidados através de circulares nossas. Pedíamos que eles contatassem a empresa e agendassem um carro para eles. O resultado foi alcançado: muitos pais aderiram ao esquema de uso do táxi e desafogaram o trânsito do dia.

Além disso, estas nossas circulares orientavam os pais sobre os assentos que eles deveriam preencher, qual a rua de acesso, qual o piso do Estádio que ficava as cadeiras deles.


E as danças apresentadas na grama do Estádio? Eram alunos, não é mesmo?

Exatamente. Nós contratamos três dançarinos que ficaram sob a coordenação de um coreógrafo muito experiente, o Ivan Santos. Além disso, todos os nossos professores de educação física estavam antenados com os rumos ditados pelos dançarinos e auxiliavam na execução do projeto. Divididos em oito turmas, 10 mil alunos se apresentaram no gramado. Estes alunos se preparam durante 15 semanas. Foi um processo bem gostoso porque desde o começo, os dançarinos contratados deixaram claro que tanto as danças quanto as músicas seriam escolhidas pelos alunos. Estes coreógrafos são muito competentes; falam a linguagem dos adolescentes, sabem canalizar os anseios dos jovens. Foi um processo tão contagiante que não foram só as meninas, como normalmente é, que participaram das danças. Muitos meninos também engrossaram as apresentações.


Teve algum momento no qual você pensou em desistir?

Teve; no começo! Eu sempre participei da organização de várias festas aqui da Unidade. Mas a dimensão desta me assustou. Cheguei inclusive a perder algumas noites de sono, o que nunca tinha acontecido.
Fui várias vezes ao Morumbi para conferir a estrutura e pensar como se dariam as ações durante a festa. Os banheiros, por exemplo, eram precários. Os sanitários não estavam nas melhores condições. Contatamos a diretoria do estádio e eles falaram que em dia de jogo tudo se transforma em arma nas mãos dos torcedores. Felizmente, uma de nossas patrocinadoras ficou responsável por equipar estes banheiros.

Outro problema enfrentado diz respeito ao acesso dos alunos ao gramado. No Morumbi, a única forma de acesso ao campo são os vestiários. Só que eles são pequenos e cada apresentação envolvia cerca de 2 mil alunos! Tivemos que construir no colégio duas rampas de madeira que funcionaram como acesso direto do piso térreo da torcida para o gramado. Era tudo bem coordenado: a medida que uma turma finalizava sua apresentação, saia por uma das rampas, e na outra já estava preparada para entrar outra turma de alunos, de outra série.

E daqui para frente; quais são os planos festivos do Colégio?

Sinceramente, eu não sei. Mas sempre me lembro de algumas palavras do coordenador de educação física da Unidade de Valinhos, professor José Roberto Regino. Ele dizia que diante de um grande desafio, a nossa tendência é esmorecer. Mas, se nós tivermos a coragem de chegar até o fim, sempre conseguiremos dar conta. Daí, ficamos refletindo se poderá existir outro desafio maior do que aquele enfrentado. E sempre existirá desafios maiores. Então, eu fico pensando qual será a próxima empreitada que me espera.


 


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