Campinas/SP - Quinta, 10 de outubro de 2024 Agência de Notícias e Editora Gigo Notícias  
 
 
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Campinas-SP

 


ENTREVISTA

 

RODRIGO BAGGIO  

Vamos sonhar juntos?


Por Fábio Guzzo


Uma pessoa preocupada com a desigualdade do país onde vive e determinada a contribuir para a melhoria deste povo: este é Rodrigo Baggio, carioca, 34 anos e fundador do CDI, Comitê para a Democratização da Informática. Rodrigo se encantou ainda quando criança com os computadores. “Com 12 anos, meu pai deu-me o primeiro computador pessoal que entrou no País: um TK 82”. Também desde muito cedo, Rodrigo atuou em projetos que denunciavam e buscavam alterar a grave situação social brasileira. Envolveu-se com trabalho voluntário, meninos de rua, movimentos sociais e estudantis.

Deste modo, Rodrigo buscou aliar estas suas predileções – a tecnologia e a atuação social – e criou o CDI. Após oito anos, o CDI expandiu-se em uma Rede de 37 escritórios regionais que oferecem suporte a 708 Escolas de Informática e Cidadania estabelecidas em 20 Estados. Também atua em outros 10 países. Só o CDI-Campinas conta com 40 Escolas sob sua coordenação. Desde sua fundação, a Rede CDI já capacitou em informática e cidadania mais de 425 mil pessoas de baixa renda. Mas não são somente números grandiosos que o CDI coleciona. Recentemente, a Universidade de Chicago homenageou o CDI oferecendo ao Rodrigo o título de Doutor Honoris Causa em Ciências Humanas.



Abaixo segue um entrevista feita em Campinas por ocasião da inauguração do Comitê Regional.


Gostaria que você contasse com outros detalhes como surgiu a idéia de montar o CDI.

Eu cursava Ciências Sociais e tranquei a faculdade para trabalhar na multinacional Accenture. Um pouco depois, resolvi montar minha própria empresa na área de informática e passei a trabalhar no mercado. A empresa até estava se saindo bem mas eu não estava satisfeito; queria fazer algo na construção de um mundo melhor, fazer a minha parte. Até que no final de 93 eu literalmente tive um sonho em que eu via jovens pobres usando computador e discutindo a realidade deles. No dia seguinte eu resolvi transformar este sonho em realidade: organizei a primeira campanha de doação de computadores da América Latina na qual eu recebia os computadores e os repassava às favelas do Rio de Janeiro.

O que resultou essa doação?

Em julho de 94, fazendo uma avaliação dos computadores nestas comunidades, eu percebi que eles estavam até sendo utilizados mas não em toda sua potencialidade. Isto porque nestes lugares não há uma cultura da utilização da informática. Então eu me propus a criar esta cultura através de um processo de ensino-aprendizagem. Foi aí que nasceu a idéia de criar uma Escola de Informática e Cidadania. A primeira do Brasil foi criada em março de 95 e deu tão certo que muitos voluntários passaram a procurar-me e no final daquele mês eu convoquei uma reunião na qual apareceram outros 70 voluntários. Nesse dia resolvemos criar o CDI como a primeira ONG de inclusão digital do Brasil.

Como nasce uma Escola de Informática e Cidadania?

Primeiramente, uma entidade nos procura para que nós ofereçamos suporte. Pode ser qualquer organização comunitária que tenha credibilidade em sua comunidade: uma organização religiosa, uma pequena ONG, um centro comunitário, uma associação de moradores.

Para concretizar a parceria, solicitamos que estas entidades escrevam um projeto de auto-gestão e auto-sustentável. Isto garante que as Escolas se tornem empreendimentos sociais capazes de andar com as próprias pernas. O CDI regional mais próximo desta organização apóia ela na criação deste projeto. De acordo com a quantidade de computadores que o CDI tenha disponível, é aprovada esta nova Escola de Informática e Cidadania. Até este ponto, ela é uma escola informal, criada em parceria com uma organização comunitária.

A proposta do CDI é somente levar conhecimentos informáticos às comunidades de baixa renda ou há outras intencionalidades?

É verdade. A informática para nós é um meio e não um fim. Há uma proposta político-pedagógica permitindo que os nossos alunos discutam a realidade da comunidade: cidadania, direitos humanos, saúde, sexualidade, meio ambiente, não-violência. Através destas discussões eles vão aprender a utilizar as ferramentas computacionais para ter uma intervenção, uma ação concreta na realidade da comunidade na qual eles estão inseridos.

Agora, por que eu digo que tecnologia para a gente é meio e não fim? Porque o aluno discute sobre todos estes temas que eu elenquei e vai utilizar a informática na melhoria de sua comunidade. Por exemplo: aqui em Campinas eu acredito que gravidez precoce deva ser um problema nas favelas. Então os alunos discutem essa problemática, pesquisam (até pela Internet) soluções e conscientizam-se. A informática entra como meio porque a partir desta munição de informações que eles levantaram eles poderão criar, por exemplo, informativos para sua comunidade, cartazes de esclarecimento e conscientização, entre outras iniciativas, utilizando suas gírias e sua visão de mundo.

A partir desta rede de Comitês que vocês configuram ao longo do Brasil e até fora dele, vocês não pensam em estruturar uma rede de comunicação entre as comunidades de baixa renda?

A partir do momento que temos conseguido conectar à Internet várias de nossas Escolas de Cidadania, a gente pensa em implantar, ainda de modo piloto, projetos baseados em comunidades colaborativas. Quer dizer, você utilizar a Internet como uma ponte digital promotora de uma verdadeira integração social.

Agora, a gente tem muitos desafios para conectar a Internet às nossas escolas. Estamos em favelas que muitas vezes não têm telefone ou que têm a caixa telefônica tão saturada que não permite a expansão de uma linha sequer. E ao mesmo tempo temos o desafio do pagamento da conta telefônica.

De todo modo, a medida que conseguimos conectar várias Escolas a Internet, temos criado um ambiente de comunidade digital, em que pessoas de lugares distintos podem iniciar um processo de troca, de intercâmbio, de discussão, para conhecer a realidade do outro.

Hoje, a informática, e mais especificamente a Internet, é elitizada. Com isso, as pessoas que frequentam a web e conversam em bate-papos têm uma mesma visão de mundo oriunda de sua classe econômica-social favorecida. A iniciativa destas Escolas de Cidadania e Informática é de colocar outros personagens e atores nesta esfera?

Exatamente. Queremos efetivamente criar uma sinergia para que estas comunidades que vivem isoladas possam ter voz. Há muitas pessoas que dificilmente saem das favelas, especialmente os jovens. Então nós queremos promover uma integração e inclusão social através da tecnologia, que para nós é uma ferramenta cidadã.

Como é o financiamento dos CDIs e das Escolas?

Primeiramente, vale lembrar que o primeiro requisito para estruturar uma Escola de Informática e Cidadania é que ela tenha auto-gestão. Além disso, as Escolas cobram uma mensalidade simbólica que varia entre R$ 5 e R$ 12 por mês. A receita desta verba gerada fica inteiramente dentro da comunidade e 50% vai para a manutenção da estrutura (contas de luz, disquetes, papel) e 50% vai para o pagamento do salário do educador. Este educador é um jovem da própria comunidade que foi capacitado pelo CDI dentro do projeto técnico-pedagógico.Além disso, os computadores são todos doados.

Isso parece mais um sonho...?

É, por isso, solicitamos o apoio do setor privado, do terceiro setor e de outras organizações que queiram participar e ajudar na consolidação do CDI. Afinal, um sonho que se sonha sozinho é apenas um sonho que se sonha sozinho. Já um sonho que se sonha junto vira realidade. Nós precisamos do apoio e da participação de todos para ajudar no desenvolvimento do trabalho na região de Campinas.

 


  • ALFRIED PLÖGER -1/6/2001
  • LUIZ ANTONIO FERNANDES -19/2/2002
  • DORIVAL BRUNI-18/4/2002
  • NEI LOPES-19/9/2002
  • MONARCO DA PORTELA-4/10/2002
  • NELSON SARGENTO-18/10/2002
  • RODRIGO BAGGIO-6/8/2003
  • LUIZ GRACIOSO-17/9/2003
  • JUREMA ESTEBAN-22/9/2003
  • BRUNO WILHELM SPECK-19/11/2003
  • SIMONE MENEZES-17/12/2004
  • Nazareno Stanislau Affonso-11/8/2005
  • GUILHERME DE BRITO-27/4/2006
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