ENTREVISTA
LÉA ZIGGIATTI -02/03/2016
Diretora do Conservatório Carlos Gomes Campinas/SP
Por Andrémarcia Aroucha
A diretora do Conservatório Carlos Gomes, Léa Ziggiatti, 76, pianista e flautista doce por formação é também bacharel em Direito pela PUC Campinas, escritora e jornalista. Há mais de 50 anos dedicada sua vida a coordenar os projetos artísticos na escola criada por seus avós, José e Catarina Inglese Soares no ano de 1927. Em 2016 o conservatório completa 89 anos, e ao longo de sua história formou milhares de artistas, na dança, teatro, música e nas artes plásticas. O conservatório segue com suas atividades em novo endereço desde janeiro na Rua José Freitas Amorim, 155, no Jd. Santa Cândida em uma área de 5 mil m2 que no passado já foi sua residência durante 15 anos. Atualmente a escola oferece cursos profissionalizantes em três turnos para mais de 200 alunos desde bebês, o público infanto-juvenil e os adultos, todos com o objetivo de mergulhar no universo das artes.
O que está achando desta nova mudança de endereço do conservatório?
Estou muito feliz com a nova mudança, com o novo ambiente e com este novo desafio. Ainda não fizemos grandes divulgações, mas para nossa surpresa os números de novos alunos já estão superando as expectativas.
Este novo ambiente é muito diferente do anterior?
O conservatório já esteve com atividades fixas em diversos endereços. No inicio quando assumi a direção do conservatório, ele estava instalado na Rua Regente Feijó no centro de Campinas. E ficamos lá durante muitos anos, enfrentamos um incêndio devastador que nos prejudicou muito, mas resistimos firmes. Depois de um tempo, o trabalho começo a crescer, tivemos que nos mudar para um sobrado na Av. Moraes Salles. O trabalho continuou crescendo e tivemos que comprar uma nova casa na Rua José de Alencar e assim o trabalho ia seguindo. E agora estamos aqui na Rua José Freitas Amorim, 155, no Jd. Santa Cândida e se Deus quiser pretendemos permanecer com os trabalhos.
Por que escolheu este local?
Eu morei aqui com meu esposo e filhos por mais de quinze anos e sabia que se reformássemos o local adequadamente teria esta possibilidade de se tornar o novo prédio do conservatório. E realmente o projeto deu muito certo e hoje tem este espaço maravilho, com muito verde, ar puro e tranquilidade para os alunos se dedicarem totalmente as aulas.
Há quantos anos a senhora se dedica a este trabalho?
São mais de 50 anos dedicados toda a minha vida a este trabalho. Assumi a direção do conservatório nos 60 e não parei mais. Dediquei toda a minha vida a este projeto e sinto que é uma responsabilidade de família e eu não consigo me desgarrar de tudo isso, faço isso com paixão na alma, o mesmo sentimento que tinha a minha avó pelo conservatório.
O conservatório fará 89 anos de existência, poucas instituições sobrevivem por tanto tempo. A que se deve essa permanência?
Eu me lembro de uma frase muito importante do maestro Benito Juarez, em ele dizia. – “Qualquer entidade cultural que sobreviva por mais de 10 anos, tem que ser respeitada”. E eu digo que nós devemos ser 9 vezes mais respeitada do que todas as outras, pois nós somos a mais antiga.
De onde veio a ideia de formar artistas com talentos múltiplos?
Esse conceito de unir todas as áreas, foi algo que eu sentir ser de suma importância para a formação cultural. Eu não me conformava em pensar que um artista deveria gostar apenas de uma coisa, não. Acreditava que ele poderia gostar de dança, musica, teatro, artes plásticas e tudo mais. Então Percebi que era necessário formar um artista global, capaz de saber explorar ao máximo suas habilidades pessoais junto com as técnicas aprendidas.
Quando a escola foi criada, ela tinha essa visão?
Não. Posso dizer que fui a pioneira ao integrar os alunos do conservatório em todas as áreas da arte e estimular essa interação.
Qual a importância de formar esse artista global?
Sinto que essa deve ser a missão do conservatório, formar artistas com cultura múltiplas. Com qualidade técnica para desempenhar os seus talentos e plena liberdade para escolher quais caminhos seguir em sua carreira.
O que é ser artista para a senhora?
O artista é aquele que tem sensibilidade.
Como é o desafio de adaptar os conteúdos oferecidos pela escola em uma época tão contemporânea e cheia de tantos outros divertimentos?
Eu considero a arte um divertimento, a arte é uma essência que está dentro do artista. As nossas aulas e métodos de ensino são atuais e precisos e acredito que isto é um fator importante para formar o artista.
A partir de que idade se deve introduzir a criança no universo das artes?
Desde dentro da barriga da mamãe. Não existe idade mínima ou máxima para se introduzir no universo das artes. Pois é como sempre digo, o ideal é a arte, a inspiração é Deus. O que deve haver é, uma preocupação da parte dos pais em colocar os seus filhos em um ambiente cultural. Não é apenas ler livros, é ir ao cinema, ao teatro, é ouvir uma orquestra e viver realmente a arte. Pois as crianças tem plena capacidade criação e temos plano para inaugurar o primeiro museu infantil de artes.
E como surgiu a ideia do museu de arte infantil?
Foi por causa de um trabalho de um aluno que foi nosso que hoje é um grande pintor, Paulo Cheida, que havia desenhado uma cabeça de Cristo, ele só tinha nove anos de idade. Eu pedi esse desenho pra mãe dele e este ficou sendo a primeira obra do museu.
Com essa mudança, ainda não temos um local definido para inaugurar o museu, mas estamos correndo para resolver esse problema o mais rápido possível.
Que tipo de obras o museu guardará?
O foco do museu é mostrar obras de alunos que já passaram pela escola. Temos muito material guardado, incluindo peças lindas produzidas por crianças talentosas que merecem ser mostradas para o público.
Existe uma banalização do termo “arte” usado pelas pessoas atualmente?
Acho que existe uma confusão. Porque as pessoas acham que tudo é arte e nem tudo é a arte. A arte é sensibilidade de cada um se projetando pra fora, ela não é esporádica ou momentânea, ela tem que ter uma evolução. Quem é artista vai ser artista a vida toda.
A senhora possui varias formações existiram duvidas na escolha da profissão para seguir?
A minha mãe sempre incentivou os estudos em minha vida. Ela nunca me quis na cozinha, ela dizia que eu tinha que estudar para ser uma musicista. Fiz mais do que isto, fiz faculdade de direito, trabalhei como jornalista por gostar muito de escrever, e escrevi livros. Acredito que a minha formação cultural me deu liberdade para escolher não apenas um caminho, mas vários e me sinto feliz por isto.
Quais são os planos do conservatório para 2016?
Percebo que existem grandes oportunidades de continuar tonando a nossa escola uma referencia no segmento cultural. E realmente desejamos muito isso. Neste ano iremos focar ao máximo nossas atividades para formar verdadeiros artistas. Queremos abrir o conservatório aos finais de semanas para apresentações musicais para o público em geral.
|